Pormenor de gravura da revista "ILUSTRAÇÃO PORTUGUESA" (1913) |
Existe muita bibliografia sobre a indústria dos palitos em Lorvão. Em 1916, a Revista “Arquivos da Universidade de Lisboa” publicou um extenso artigo de José Henrique de Azeredo Perdigão (1896-1993), estudante de Direito.
O artigo daquele que mais tarde viria a ser o 1º Presidente
da Fundação Calouste Gulbenkian intitulava-se “A indústria em Portugal - Notas
para um inquérito”. Ali se analisa o estado das indústrias em cada um dos
distritos do continente e “ilhas adjacentes.”
Referindo-se ao distrito de Coimbra, começa por salientar que “não
existem grandes fábricas, verificando-se sim “um grande desenvolvimento nas
pequenas indústrias”.
A indústria algodoeira é considerada como “a única
verdadeiramente notável” seguindo-se a moagem e o fabrico do papel (Góis, Lousã
e Miranda do Corvo). As fábricas de serração de madeira, a metalurgia (fundições
e serralharias), a cerâmica (Coimbra, Figueira da Foz, Lousã e Penacova) e a
indústria do calçado completam a lista das actividades industriais mais
significativas.
A análise do distrito de Coimbra, naquele estudo de Azeredo
Perdigão, termina com a referência a Lorvão: “Entre as indústrias caseiras e
rurais devemos citar a dos palitos, muito desenvolvida, especialmente em
Penacova e Lorvão.”
“Esta indústria que merece um pouco de estudo, exerce-se nos
concelhos de Poiares, Coimbra e Penacova, sendo o principal centro de fabrico a
aldeia de Lorvão. O trabalho é manual e só há pouco tempo ainda é que em
Penacova se instalou uma fábrica de palitos que deve empregar 34 operários.”
Depois desta introdução seguem-se algumas notas estatísticas,
afirmando-se que “na freguesia de Lorvão que deve ter 3 700 habitantes, há 2 220
operários paliteiros ; no concelho de Penacova devem ocupar-se nesta indústria
3.484 indivíduos; no concelho de Poiares, 540; no de Coimbra, 174; ao todo,
4 198 paliteiros, sendo 296 rapazes, 1.605 raparigas, 424 homens e 1 873
mulheres, o que nos revela uma grande preponderância nesta indústria caseira do
trabalho feminino, o que aliás acontece com quási todas as outras”.
Ficamos a saber que um “operário destro” podia produzir, por
dia, “ 50 palitos - flor ou 2000 marquezinhos, ou 2400 ordinários, ou 4000 maganos”, ganhando
assim o” ínfimo salário de 120 ou 140 réis.”
Ao nível do distrito de Coimbra, o “valor económico da
indústria paliteira” traduzia-se nos seguintes dados: “valor de maços
produzidos: 10 656$00; valor da madeira empregada como matéria prima: 48 491
$00; lucros para os fabricantes: 146 522$00; lucros para o comerciante:
67 368$00; lucros para o fornecedor de madeiras: 16 911$79; lucros totais, ou
riqueza que para a região representa a indústria paliteira: 230 801$79.”
Este documento da Universidade de Lisboa, publicado em 1916, sublinha
que “uma das coisas mais curiosas que se verifica na região paliteira, é a existência
do palito-moeda” pois, “como a maior parte das casas comerciais daqueles
concelhos vendem palitos em quantidade, aceitam-nos em pagamento de géneros
alimentícios e outros artigos.”
“O
empacotamento ou se faz em embrulhos de papel que reunidos formam um maço, ou
em pequenas caixas contendo aproximadamente 400 palitos. Há várias casas de
empacotamento e exportação que compram os palitos à indústria doméstica e
depois de aperfeiçoados os enviam para todo o país e até para o estrangeiro,
sendo as Repúblicas Sul-Americanas um bom consumidor deste produto regional” – acrescenta
ainda Azeredo Perdigão que não deixa de reconhecer as limitações deste seu trabalho perante a
inexistência de “verdadeiras
estatísticas industriais”.
Sem comentários:
Enviar um comentário