Gravura publicada no século passado na imprensa local |
O nascimento de Nossa Senhora ou a Natividade de Maria é uma festa litúrgica celebrada no dia 8 de Setembro, precisamente nove meses depois da festa da Imaculada Conceição.
Muitas vilas e cidades de Portugal têm neste dia o seu feriado municipal, associado a importantes festas marianas correspondendo a uma grande diversidade de invocações. Aquando da instituição do feriado municipal de Penacova, as opiniões dividiram-se entre o dia 8 de Setembro e o dia 17 de Julho dada a importância que a romaria do Mont'Alto assume para as gentes da região. Com feriado ou sem feriado a tradição mantém-se. Se coincidir com um sábado ou domingo, tanto melhor. É o que acontece hoje. A romaria promete.
Recordemos o que escreveu em 1987 o Professor Nelson Correia Borges na obra “Coimbra e Região” sobre a Senhora do Mont’Alto:
“O Mont’Alto avulta na paisagem, a norte de Penacova, como formidável mole defensável, uma das derradeiras manifestações da Serra do Buçaco. As ribeiras de Penacova e de Selga delimitam as suas vertentes escarpadas, onde trepam carreiros milenários que conduzem ao santuário da Senhora. O acesso é, no entanto, também possível a carros, não sem algumas dificuldades. A estrada conduz-nos do Casal à Chã; a partir daí o caminho é florestal.
O excelente miradouro é prejudicado pelo arvoredo circundante. A capelinha, todavia, é um encanto, na sua singeleza de ermidinha bem portuguesa. Antecede-a um alpendre de seis colunas toscanas do século XVII e em toda a volta tem um banco corrido, para os romeiros se sentarem a saborear os farnéis.
Ocorria aqui, em tempos idos, uma das mais concorridas romarias da região. Segundo as informações paroquiais de 1721, nesse tempo “os moradores da Vila de Botão e de S. João de Figueira” vinham todos os anos em procissão à Senhora do Mont’Alto, em cumprimento de um “voto antiquíssimo”, trazendo as suas ofertas em tabuleiros à cabeça de donzelas “ como tradição antiga”.
Hoje a festa continua a realizar-se no dia 8 de Setembro, a que o povo dá o nome de Dia das Sete Senhoras, mas os romeiros já não vêm de tão longe, nem cantam no terreiro da capela as modas de outros tempos:
A senhora do Mont’Alto
Mandou-me agora chamar,
Que tem o seu manto roto,
Que que eu lho vá remendar!
A senhora do Mont’Alto
Lá vai pelo monte acima,
Leva a cestinha no braço
Para Fazer a vindima.
Se nesta época se preparam as vindimas, também se faz a mudança de ritmo da vida quotidiana. Agora, muda-se a hora dos relógios. Não vão lá muitos anos, começava o serão e acabava a sesta. Tudo isto se pode comungar com a entidade que se cultua, em tocante familiaridade.
Ó senhora do Mont’Alto,
Eu não volto à vossa festa,
Que me tirais a merenda
E mai-la hora da sesta!
O único habitante do Mont’Alto foi, em outros tempos, um ermitão que tomava conta da capela e a franqueava aos devotos. As mesmas informações paroquiais de 1721 dão a propósito a seguinte nota curiosíssima:
“Ao pé deste monte, contam os naturais, que nascem umas pedras redondas como seixos, as quais partidas se lhe acha dentro outra pedrinha do tamanho e redondeza de uma noz, que com pouca violência se desfaz em pó, e este aplicado à enfermidade da asma é singular remédio, e tanto que por ser singular e único de muitas partes deste Reino são procuradas, e como se fossem milagrosas saram os asmáticos, e ficam de todo livres”
Como se aplicava o pó não o diz o padre informador, porém, atendendo mais ao valor estratégico do monte do que às suas virtudes salutares, o general Wellington mandou colocar junto à capela algumas peças de artilharia, por ocasião da batalha do Buçaco.
Hoje em dia já ninguém se lembra dos episódios da batalha, mas quem subir ao santuário pelos caminhos tortuosos pode encontra ainda alguns dos tais seixos e , se quiser, verificar a veracidade da informação… "
In Novos Guias de Portugal, Coimbra e Região - Nelson Correia Borges – Editorial Presença, 1987
UM RECORTE DE 1912...
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