Depois de termos referido com algum pormenor aquilo que se passou em Farinha Podre (actual S. Pedro de Alva) e em S. Paio de Farinha Podre (actual S. Paio do Mondego), damos agora continuidade a este assunto, trazendo à memória dos leitores as horas trágicas que também a freguesia de Travanca de Farinha Podre viveu, em parte há precisamente 205 anos feitos hoje, e depois, pela segunda vez, no início da Primavera seguinte.
De acordo com o relato do Prior António Paulino Coelho de
Mesquita, datado de 13 de Abril de 1811, os franceses entraram duas vezes em Travanca:
nas vésperas da Batalha do Bussaco (Setembro de 1810) e em Março de 1811.
Da primeira vez, entraram na igreja, “arrancaram as pedras
de Ara, quebraram uma, lançaram todas as demais pelo pavimento, assim como
todas as toalhas e paramentos”. Nas capelas não entraram. Nas casas poucos
estragos e roubos fizeram: apenas alguns sacos de grão. No entanto, é referida
a morte de dois homens. Um seria de Venda Nova de Cima (freguesia de Farinha
Podre) e “outro não se sabe de onde”.
Em Março, entre 16 e 18, também assaltaram a igreja, tirando
galões a todas as vestimentas e capas. Além disso tiraram as relíquias a uma
pedra de Ara, “arrombaram o sacrário pela parte de trás e tiraram o forro e
cortinas”.
Nos anexos da igreja “arrombaram a porta do armazém de
azeite donde tiraram algum”. Na residência
paroquial “quebraram e roubaram tudo o que apanharam”. Na freguesia queimaram
sete das melhores “moradas de casa”, com prejuízos de “mais de vinte mil
cruzados”.
Em Lagares mataram Manuel Rodrigues, casado, “sapateiro”, já
passado dos 80 anos. Um outro foi vítima de várias cutiladas. Aprisionaram uma mulher casada “a qual deixaram”. Na tabela
feita pelo Arcipreste de Sinde lá aparece registada na coluna das mulheres
violadas”...
Sem comentários:
Enviar um comentário