“Umas Férias
em Penacova” – assim se intitulou um conjunto de crónicas que Alves Mendes publicou
no Verão de 1857. No texto de hoje, somos confrontados com alguns dados
históricos [recordados no jornal O Conimbricense há 160 anos] relativos a Penacova, alguns deles provavelmente desconhecidos da
maioria dos penacovenses e perdidos na memória dos tempos…
"Entretenhamo-nos
por um pouco com dar a nossos leitores ainda que a largos traços uma notícia
exacta de minha veneranda pátria.
A sua
posição no cimo de um monte escarpado cujas costas se acham povoadas de
gigantescas e copadas oliveiras, é sem dúvida de um aspecto admirável e
penetrante, e o seu clima belo e excelente torna de duplo merecimento esta vila
de remota antiguidade.
(…) Sobranceira
a esta vila se acha o Monte Alto, que dela rouba o nome e que pelo airoso
esmalte das árvores que o ornam acabam de completar este Éden terreal. Existem
nesta vila os Paços do Duque de Cadaval, que em tempos antigos pertenciam aos
Condes de Odemira, que deles eram donatários. Este excelente edifício tinha uma
espaçosa capela onde com toda a devoção outrora se prestava culto à
divindade e em que se veneravam ricas imagens, das quais hoje algumas pertencem
à Paroquial e outras a pessoas devotas, que as souberam alcançar. Acha-se hoje
plenamente arruinada, conservando-se apenas o altar-mor e as paredes colossais
que ainda disputam aos séculos a sua duração e servindo o pavimento para usos
profanos!
Ainda se
discriminam, posto que com alguma dificuldade, os vestígios do antigo castelo
que possuía, cujo lugar era num elevado oiteiro que lhe fica ao fundo, e que
hoje é coroado com uma, ainda que pequena, contudo sumptuosa, capela dedicada à
Senhora da Guia, donde não somente é dominada a vila, mas se goza da vista
encantadora do tortuoso Mondego em mais de uma légua de distância. (…)
Tem Penacova
uma igreja paroquial cuja padroeira é N. S. da Assumpção: é ela duma
arquitectura simples, porém majestosa. (…) entre as muitas e milagrosas imagens
deste templo é notavelmente conhecida a do Senhor dos Passos, que antigamente
pertencia aos Paços do Duque de Cadaval.
(…) Também
Penacova se vangloria de terem entrado no número dos seus Vereadores, D. Vasco
da Gama com seu irmão Paulo da Gama, como muito bem se colige de suas assinaturas
que hoje existem nos antigos documentos da Câmara. Quer enfim a tradição
ensinar, que o célebre descobridor das Índias contraira nesta vila o seu
casamento!
De resto
nada há digno de menção."
Penacova, 2
de Setembro de 1857
António Alves Mendes da Silva Ribeiro
__________
Em notas de
rodapé, Alves Mendes desenvolve neste texto a origem etimológica do topónimo Penacova. A
propósito da capela da Srª da Guia fala da intenção que terá havido em tempos de se construir ali um templo dedicado a S. Pedro a expensas de um penacovense
emigrado no Brasil. Avultada quantia terá mesmo sido entregue ao prior D. João
da Cunha Souto Maior mas este acabou por apenas construir as paredes, tendo
gasto o restante em obras de caridade. Só em 1783 o Pároco, Tomás Patrício dos
Santos, decidiu construir no local um espaço mais modesto, a capela da Sª da Guia de que hoje apenas
resta a fachada.
A referência ao casamento de Vasco da Gama tem algum
fundamento. É que, Catarina
de Ataíde, sua mulher, era de facto filha de António de Ataíde, Senhor de
Penacova
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