Imagem de um dos muitos comícios republicanos que de Norte a Sul antecederam a Revolução de 5 de Outubro |
Aquele periódico local, na sua edição de 31 de Julho, escreve: ''Um comício republicano em S. Pedro de Alva! Quem pensava em tal há três ou quatro anos?'' Nesses tempos – prossegue o jornal – ''os republicanos contavam-se pelos dedos. Se mais havia, e havia com certeza, fechavam as suas ideias a sete chaves, não fossem elas passar do domínio das suas consciências.''
Referindo-se “ao bom povo desta região”, lembra que “já muito poucos se arreceiam de dizer alto e bom som as suas ideias, sem que pese e barafuste o progressismo e o franquismo indígenas''.
A tribuna, em forma de pavilhão, foi montada ''num terreno particular, junto ao lugar onde se costuma realizar a feira dos bois''. O acontecimento foi abrilhantado pela Filarmónica de Vale de Remígio (Mortágua) e animado com o estralejar de foguetes.
Começa por discursar o Dr. Fernandes Costa. De seguida, usa da palavra o Dr. Feio Terenas, e o dr. Alfredo de Magalhães. Vindo de Coimbra,''o jovem propagandista democrático'', José Cardoso, antecede a intervenção de António José de Almeida, louvando a iniciativa da realização do Comício e da criação do Centro Republicano.
António José de Almeida proferiu um ''belo e empolgante discurso'' – na opinião do Jornal de Penacova. Esclarecendo a sua posição naquele comício, disse: “O orador veio falar à sua terra porque cá o chamaram. Não vem pedir nem votos, nem influências, nem importância. Nada precisa da República, como nada aceita da Monarquia. Vem junto dos homens da sua terra para os ajudar a redimir e salvar. Não é um galopim que venha pedir votos, é um combatente que vem oferecer o seu braço, o seu cérebro e o seu esforço. Para ele, a sua terra natal é muito, mas a pátria é mais, porque é tudo.”
Na sua intervenção, falou da ''miséria do concelho, sem estradas, sem escolas, sem hospitais, cheio de fome e varado de miséria, sob a pressão implacável dos caciques, que transformaram esta fecunda região num feudo quasi maldito''.
Para o local haviam sido destacadas tropas de Coimbra. Pouco depois de começarem as intervenções, verificou-se alguma perturbação da ordem. Um grupo de pessoas terá começado a dar ''vivas'' a Oliveira Matos, à monarquia e a Jesus Cristo. Os militares viram-se obrigados a intervir e tudo terá acalmado.Antes do Comício, pelas "duas horas da tarde", António José de Almeida, acompanhado por Feio Terenas, Alfredo de Magalhães, Fernandes Costa e outros, dirigiu-se à Praça José António de Almeida, para inaugurar o Centro Republicano, no edifício onde hoje se situa o Talho Abranches.
Da intervenção de António José de Almeida é de salientar uma afirmação que, a poucos dias da Revolução, reflecte a determinação dos republicanos em avançar para o derrube da monarquia ''não só pelas palavras mas também pelas armas''.
O Jornal de Penacova de 8 de Agosto, em artigo de primeira página, registou: ''Comício Republicano de S. Pedro de Alva mais de 3 000 pessoas aclamam com entusiasmo os oradores republicanos ''.
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Bibliografia: Penacova e a República na Imprensa Local, Edição do Município de Penacova, 2011
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