Aspectos das obras de restauro / fotos da APDML |
Na página
do facebook da Associação Pró-Defesa do Mosteiro de Lorvão, podemos ler que “o órgão já
tem voz”. Aí se noticia que se encontra “em fase de afinação e instalação final
dos últimos registos o órgão monumental de Lorvão”. Recorda-se que foram “mais
de duas décadas de luta” e acrescenta-se que “os trabalhos deverão ainda prolongar-se pelo
mês de Janeiro, findos os quais poderemos assistir ao concerto inaugural.”
A importância histórica, cultural, musical do Órgão de Lorvão é inegável. Mais uma vez vamos reler um dos muitos
escritos do Prof. Doutor Nelson Correia Borges no Notícias de Penacova.
NOTÍCIAS DE PENACOVA_1968 |
Este ilustre historiador
penacovense escreveu (1968) naquele periódico um conjunto de quatro artigos
sobre este tema onde nos apresenta “alguns dados de ordem técnica e histórica”.
No primeiro artigo Nelson Correia Borges lamenta que “depois de importantes
obras de restauro levadas a cabo em 1955 pela DGEMN e que fizeram voltar o
alentado instrumento ao seu antigo esplendor, dum momento para o outro elas ficassem
inutilizadas parcialmente por injustificável incúria, em virtude de ter-se dado
infiltração de água das chuvas durante umas obras de reparação do telhado”.
Segundo este especialista da
temática lorvanense “é provável que existisse em Lorvão em eras mais recuadas
um órgão”. Todavia “ o primeiro órgão de que há notícia foi o que em 1718
mandou fazer a abadessa D. Cecília d’Eça e Castro. A abadessa D. Maria da
Trindade resolveu reformá-lo, mandando mudá-lo, acrescentar-lhe mais registos e
dourar-lhe a caixa.
Entretanto dão-se as obras de
reconstrução da Igreja que começaram em 1748 e se prolongaram por cerca de
vinte anos. Depois das obras, as religiosas quiseram dotar os mosteiro com um
órgão que primasse pela “grandiosidade e perfeição técnica.” Assim, foi a
abadessa D. Madalena Maria Joana Caldeira (1783-1786) que encomendou a António
Xavier Machado e Cerveira, (que seria irmão de Machado de Castro) o actual
órgão. Só ficou concluído em 1795, com o número 47 de fabrico. Em estilo “neo-clássico,
conjuga-se admiravelmente com o interior da Igreja” – escreve o Prof. Nelson
Correia Borges.Apresenta duas fachadas, uma para a nave e outra para o coro, “
sendo o único, no nosso país, com este aspecto”.
“Pouco tempo depois vieram as
invasões francesas com os seus dias atribulados e começou a decadência que já
se adivinhava com o fim do séc. XVIII. O tempo se encarregou de emudecer o
alentado instrumento que desde os fins do século passado [XIX] não voltou a
ouvir as suas vozes.”
A opinião do eminente organista americano E. Power Biggs que visitou Lorvão |
Em 1955 o órgão “recuperou a voz” graças às obras acima referidas, levadas a
cabo pela Firma João Sampaio (Filhos), Lda. Neste restauro foram introduzidas
modificações nos foles e na cobertura do teclado. Os primitivos foles eram em
forma de cunha e necessitavam de dois homens que tinham de se revezar com
frequência. Foram substituídos por um único fole paralelo, instalado em sala
contígua, com a vantagem de fornecer sempre a mesma pressão de ar. O seu
conjunto harmónico é constituído por cerca de dois mil e quinhentos tubos de
metal e madeira.
“Por nunca ter sido publicado – refere o Prof.
Nelson Correia Borges – julgamos de certo interesse dar a conhecer o seu
dispositivo”.
São dois os teclados que agrupam os
sessenta e um registos, correspondendo a dois órgãos distintos: um voltado para
a igreja e outro para o coro.
CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIAR Descrição do complexo dispositivo harmónico, publicado pela 1ª vez pelo Prof. Nelson Correia Borges em 1968 |
A pedaleira é composta por cinco
pedais para o comando dos diversos efeitos (crescendos, decrescendos…). O tubo
mais pesado tem cerca de 120 quilos e mede aproximadamente 6 metros de
comprimento e tem 40 centímetros de diâmetro. Pode ver-se na fachada voltada
para a nave.
“Teria o órgão de Lorvão tido
música escrita propositadamente para ele? “ - tudo leva a crer que sim –
entende Nelson Correia Borges - pois Lino d’Assunção refere uma monja que era
exímia em música, D. Teresa Sancha Mafalda e que teria composto muitos hinos,
uma missa e várias matinas.
Já em 1968 Nelson Correia Borges
escrevia que “ é necessário que o órgão volte a poder fazer-se ouvir” (…)
oferecendo, assim, Penacova “a par de
bucólicos passeios nas barcas serranas do manso Mondego, recitais no órgão de
Lorvão”
Esse sonho parece agora estar
prestes a ser concretizado.
OBS: o título desta postagem refere-se a um conhecido cântico litúrgico, verso que é subtítulo dos artigos referidos.
OBS: o título desta postagem refere-se a um conhecido cântico litúrgico, verso que é subtítulo dos artigos referidos.
Muito obrigado pelo artigo. Já tendes informações sobre o concerto de inauguração?
ResponderEliminarO concerto inaugural está previsto para o dia 3 de Maio!
EliminarInauguração a 03 de Maio de 2014, pelas 21horas
ResponderEliminar