A construção e abertura do Preventório (há 80 anos) foi notícia nacional e mesmo internacional. Trava-se a luta contra a tuberculose e esta obra de Bissaya Barreto e também de Sales Guedes foi considerada como modelar no panorama médico e social da época. Sobre a história do Preventório falaremos noutra ocasião. Por hoje fica a transcrição de uma crónica publicada numa revista feminina (1933), assinada por Maria Lúcia [Vassalo Namorado Silva Rosa], que viveu em Penacova nos inícios da década de trinta. Também um apontamento sobre esta jornalista e escritora de craveira nacional, ligada por casamento a Lorvão, será publicado em breve pelo Penacova Online.
Uma bela obra
O Preventório de Penacova
A criança portuguesa, tanto tempo esquecida e abandonada ao
acaso da sorte, sofrendo o contágio de todas as doenças físicas e morais na
vagabundagem das ruas e na penúria dos lares infelizes e miseráveis – começa,
finalmente, a ser olhada com o amor que merece a sua medição de ser adorável e
indefeso, com o interesse que o futuro da Raça e o engrandecimento da Pátria
reclamam. Com efeito, é já apreciável o número de particulares e colectividades
que se dedica a este assunto, ocupando lugar de destaque a Junta Geral do
Distrito de Coimbra, cuja Obra de Protecção à grávida, defesa da Criança e
Profilaxia da Tuberculose, é verdadeiramente notável.
O Hospitais - Sanatórios de Celas e de Covões, esplendidamente
instalados, o primeiro para mulheres e crianças, com 100 leitos; o Dispensário
de protecção a grávidas e crianças; o Ninho dos Pequenitos, onde estão
internados pequerruchos até 3 anos de idade, filhos de tuberculosos pobres, em
perigo de contágio; Escola Agrícola de Semide, com 100 alunos internos de 12 a
19 anos; a colocação de crianças abandonadas em Famílias que lhes garantam
bem-estar e sã educação moral – são já esplêndidas realidades que anunciam
outras, e pelas quais a Junta Geral do Distrito de Coimbra merece a simpatia e
a gratidão do País.
Ao esforço e ao coração do Professor Bissaia Barreto,
incansável Presidente da Junta, se deve, principalmente, tamanha e tão linda
empresa; seria, porém, injustiça não reconhecer as grandes e sinceras dedicações
que o têm acompanhado, auxiliando-o preciosamente.
Vem isto a propósito de Preventório de Penacova que, se
figura como obra da Junta, verdadeiramente se deve em grande ao Dr. Sales
Guedes, que dia a dia lhe tem dado o melhor da sua inteligência, da sua actividade
e do seu carinho: falando no Preventório de Penacova justo é que se faça
referência a este médico distinto que tão bem sabe amar a sua nobre profissão e
se preste homenagem ao seu espírito empreendedor e generoso.
Destina-se o Preventório a cerca de 100 crianças dos 3 aos 12
anos, que receberão, a par do tratamento necessário, as primeiras luzes da
instrução; deve abrir daqui a poucos
meses; acabado há pouco, é um edifício moderno, elegante, onde se não cuidou
unicamente da higiene e do conforto dos seus futuros moradores: rodeia-o e
invade-o uma visão constante de alegria e beleza, que por força há - de
beneficiar as almas que lá vão desabrochar. As salas são amplas e o Sol entra
por elas dentro a jorros, brincando com as cores suaves das paredes, dos
biombos, do mobiliário pequenino. Nas janelas e nas varandas há canteiros
floridos de gerânios vermelhos e cor de rosa. O Parque, depois de concluído,
deve ficar um verdadeiro mimo, com as suas árvores baixinhas e ramalhudas.
Debruçado sobre o maravilhoso vale do Mondego, rodeado de colinas cobertas de
pinhais salpicados de povoações, o Preventório goza uma das mais serenas e
belas paisagens da terra portuguesa; postado onde outrora se elevou o Castelo
de Penacova surge como uma nova sentinela, não com o sobrecenho de quem vai
arremeter contra o irmão que as convenções e a ambição tornaram inimigo, mas
com o ar tranquilo e risonho de quem se sente feliz ao fazer o carinhoso apelo:
deixe vir a mim os pequeninos!
Penacova, Primavera de 1933
Maria Lúcia
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