Os regimes totalitários, ditaduras, governos de exceção, ao
reprimirem a livre expressão popular se transformam em campo fértil para a
criação dos artistas, na música, no teatro, no cinema e na literatura.
Se a regra é geral, imagem quanto o povo oprimido conta com uma
casta de compositores e autores, como nunca parece ter existido, todos de uma
só vez, em uma mesma geração! Assim se deu no Brasil; manifestações caladas
pelo Regime Militar que imperou de 1964 a 1985, criações de uma geração de ouro. Deu no que
tinha que dar, muita gente tendo que fugir “num rabo de foguete” (avião)
Para não serem presos os artistas deixaram o país, uns fugindo
mesmo, outros foram “convidados” a fazê-lo. Não vou escrever muito para mostrar
a imagem do Brasil naquela época, se uma imagem vale mais do que mil
palavras, vale muito cantada.
No começo da ditadura brasileira, a exemplo do Festival de Cannes
(França) aqui também eram realizados festivais; a censura era ainda leve, o
povo estava começando a experimentar o novo regime.
A Banda
(Chico Buarque) – Intérprete: Chico Buarque
A BANDA clique na imagem para aceder a vídeo |
Disparada (Téo de Barros – Geraldo Vandré) 1966 – Intérprete: Jair Rodrigues
DISPARADA clique na imagem para aceder a vídeo |
Sabiá ( Chico Buarque – Tom Jobim)
- Intérprete: Quarteto em Si
SABIÁ clique na imagem para aceder a vídeo |
Pra
não dizer que não falei de flores (Geraldo Vandré) 1968 – Com Geraldo Vandré
P´RA NÃO DIZER... clique na imagem para aceder a vídeo |
Então cantou Vandré
“vem vamos
embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera
acontecer.”
Depois do
festival a música foi proibida; Vandré teve que ir embora, quando voltou, com o
fim da ditadura, nunca mais cantou. Já havia cantado “o necessário”.
Apesar de você – Chico Buarque – 1970 –
Intérprete: Chico Buarque & MPB4
APESAR DE VOCÊ clique na imagem para aceder a vídeo |
Era puro protesto. O final genial diz: “você vai se dar mal, etc. e tal”. Esse “etc. e tal” é tudo aquilo que Chico gostaria de dizer, em palavras de baixo calão, que cada um imagine quais seriam conforme os costumes locais.
Meu caro amigo (Chico Buarque. Francis Hime) – Intérprete: Chico Buarque
MEU CARO AMIGO clique na imagem para aceder a vídeo |
Diz ele: “ aqui na terra tão jogando futebol, tem muito samba, muito choro, rock’n... mas o que eu quero-te dizer é que a coisa aqui ta preta.” (Aqui estar preta significa dizer que está feia). Fala sobre a censura: “acontece que não pode te contar as novidades”. E outro trecho: “quis até telefonar, mas a tarifa não tem graça”. E fala da censura no Correio.
Cálice – (Chico Buarque – Gilberto Gil) –Intérpretes: Chico e Caetano Veloso
O
titulo é trocadilho, cálice por outra expressão com mesma sonoridade: cale-se.
O
Bêbado e a Equilibrista 1978 – (João Bosco, Aldir Blanco) –Intérprete: Elis Regina
O BÊBADO ....clique na imagem para aceder a vídeo |
A música se tornou o hino da abertura.
Caía a tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto
Me lembrou
Carlitos
A lua, tal qual a dona do bordel
Pedia a cada estrela fria
Um brilho
de aluguel.
E nuvens, lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas,
que sufoco!
Louco, o bêbado com chapéu-coco
Fazia irreverências mil pra noite do Brasil
Meu Brasil!
Que sonha com a volta do irmão do Henfil
Com tanta gente que partiu num rabo de foguete.
Chora a nossa pátria mãe gentil
Choram Marias e Clarisses no solo do Brasil.
Mas sei que uma dor assim pungente
Não há de ser inutilmente, a esperança
Dança na corda bamba de sombrinha
E em cada passo dessa linha pode se machucar.
Azar, a esperança equilibrista
Sabe que o show de todo artista
Tem que continuar...
A mesma música na interpretação do autor, ou do público, porque, na verdade ele pouco canta.
O BÊBADO clique na imagem para aceder a vídeo |
Abraços a todos.
P.T.Juvenal Santos - ptjsantos@bol.com.br
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