sábado, janeiro 12, 2013

Cartas Brasileiras: o Acordo Ortográfico


Ab-rupta decisão

 

 



O Diário de Barretos, principal jornal da minha cidade natal publicou em 3 de Fevereiro de 2009 minha crônica com o título em destaque. A crônica era sobre a Reforma Ortográfica da Língua Portuguesa, que entraria efetivamente  em vigor no dia 31 de Dezembro de 2012. Ela ia assim mexendo ou brincando com a nova ortografia, que ora mostro renovada:
 
Ab-rupta decisão! Nem tanto! Não foi nada ultrassecreto, e não se trata de decisão extraoficial, não é teste, é para valer. E tem gente que não para de reclamar. Confesso, fiquei com os pelos arrepiados por causa dos novos procedimentos; isso mesmo, com os pelos, porque já não há mais pêlos. Com o tempo as mudanças serão assimiladas. Podemos ficar tranquilos, calma, não trema, não causaremos nenhuma feiura com eventuais deslizes iniciais, ainda que ”feiura” assim grafada fique horrível. Também não dá para querer realizar assembleia na antessala da diretoria da escola tentando buscar apoio para carta de protesto, nem tentar atitude antissocial, o melhor mesmo é querer aprender, seria como tomar aula de direção em uma autoescola.

Vamos nos acostumar com as novas regras, com o tempo iremos até gostar. É só lembrar que nos anos sessenta, quando surgiu a minissaia, houve protestos e escândalos, mas hoje é assunto superado e todos veem com bons olhos, mesmo com a impressão de que a nova “minissaia” parece ter ficado mais comprida. Os mais assanhados devem estar reclamando.
 
Não sei, pode ser que no futuro haja alguma dificuldade para ensinar a pronúncia da palavra linguiça porque uns poderão imaginar que seja como a de preguiça. É verdade que alguns acentos caíram, porém não quer dizer que liberou geral. Sim, jiboia perdeu o acento, no entanto continua sendo escrita com “j” e não com “g”. Nada de afobação como na estreia de peça teatral. Sabemos que após as primeiras apresentações os artistas ganham confiança, e tudo se encaminha sem que ocorram erros ultraelevados. Nada de gestos heroicos. Quem sabe nos reste a decisão de tomar aulas extraescolares, tudo bem. Para despistar a idade há cremes antirrugas, que assim parecem combater com mais vigor essas marcas temporais que as mulheres tanto odeiam. Ou então tentar autoajuda comprando livros da nova gramática de coautores renomados. Vejo tudo sem muita paranoia mesmo escrevendo para uma  atenta “platéia”.
 
Pois bem, no Brasil a Reforma Ortográfica foi logo assimilada pelos jornais e revistas, os principais dicionários soltaram edições especiais, até mesmo a Academia Brasileira de Letras editou a nova ortografia, vários autores com livros na praça para ensinar as novas regras,  programas para computador foram atualizados.
 
O prazo fatal mais parecia o tempo que se estava dando para que os gramáticos e autores de dicionários pudessem se preparar.
 
Chega o final do ano e para surpresa geral, a Presidente Dilma edita lei adiando para 31 de Dezembro de 2016 a data  para que as novas regras ortográficas entrem em vigor. O pior é que, pelo que se sente, algumas regras poderão até mesmo ser alteradas, o que deixa tudo em um enorme embrulho e confusão. Ao que parece, nada de oficial, a prorrogação visaria  atender Portugal que estaria com dificuldades para implantar e adotar algumas regras. Pelo que se vê,  nem todos falavam a mesma língua quando assinaram o tratado.

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