O sentimento de pertença e a ligação das populações à sua matriz local e
cultural é um bem intangível, que nos identifica, que solidifica laços, amplia solidariedades,
exprime o melhor de nós enquanto povo, une-nos na coletividade, junta-nos na
diversidade.
A reorganização administrativa levada a cabo pelo atual governo, a lei n
22/2012 de 30 de maio - ou melhor, a agregação/extinção de freguesias - não tem
em linha de conta os reais interesses das populações das freguesias agregadas.
Tanto mais que esta lei imposta aos portugueses contra a vontade da
generalidade dos autarcas, coloca em causa serviços de qualidade e de
proximidade que são prestados às populações, serviços estes que acrescentam um
grande valor social às pessoas, mas sem
grandes impactos em termos de custos no orçamento geral do Estado para 2013 - o
valor de transferências para as freguesias é uma percentagem parcamente exígua
do PIB - na questão da poupanças e na resolução do défice do Estado,
praticamente insignificante. No momento em que os portugueses vivem o
constrangimento de uma política cega e cada vez mais insensível, a lei da
extinção das freguesias agride o bem-estar das populações das freguesias
afetadas.
Mais, em tempos de crise e emergência social, as juntas e os seus
presidentes terão um papel preponderante na sinalização e na ajuda de resolução
dos casos mais contundentes. Mais uma vez, serão as populações a parte mais
sacrificada, devido à empenhada teimosia e ação de amputação social perpetrada
por este governo, suportado pelas bancadas da maioria PSD/CDS, na Assembleia da
Republica.
Como diz o povo, e tem razão, "a pressa é inimiga da
perfeição", e este ditado assenta como uma luva na proposta apresentada
pela Unidade Técnica para a Reorganização Administrativa do Território, para o
concelho de Penacova, revelando que esta reorganização foi feita à pressa, em
cima do joelho, com urgência desmedida e despropositada, e apresentando falhas,
como é bem patente no caso da agregação da freguesia de Paradela da Cortiça
a Friúmes. Na proposta, é referido que "esta freguesia partilha uma
matriz rural comum e uma estrutura urbana dispersa com a única freguesia que
lhe é contígua , Friúmes, com 645 habitantes..." ora, isso é falso e não
podia estar mais adulterado, uma vez que a freguesia de Paradela da Cortiça
também faz fronteira com a freguesia de São Pedro de Alva e com a qual até
terá, porventura, maior afinidade. O mesmo acontece com Travanca de Mondego,
que terá mais afinidade com São Pedro de Alva do com a freguesia à qual
foi agregada, Oliveira do Mondego.
O processo não foi agregador, criou instabilidade, clima de guerra e de
desunião no País real. Foi politicamente mal conduzido. Não traz mais valias.
Ao que parece, tudo foi feito sem razoabilidade e, como sempre, os prejudicados
são sempre os mesmos - as populações!
Humberto Oliveira
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