segunda-feira, outubro 22, 2012

Nos 125 anos do padre Américo: as Colónias de Campo em S. Pedro de Alva e a origem das Casas do Gaiato

A "Casa da Colónia" em S. Pedro de Alva.
Aqui, o Padre Américo idealizou a Obra da Rua.
Américo Monteiro de Aguiar nasceu a 23 de
Outubro de 1887, faz amanhã 125 anos.
[Foto da casa e da placa: Alfredo Santos Fonseca]

Existe ainda hoje em S. Pedro de Alva, a velha "Casa da Colónia", na rua da Palmeira. Uma lápide na parede recorda que por ali passou o padre Américo e que também nessa casa funcionou a escola primária. De facto, de 1935 a 1939, ali funcionou uma Colónia de Férias de Campo promovida pelo fundador da Obra da Rua.
Américo Monteiro de Aguiar (nascido a 23 de Outubro de 1887) foi ordenado padre em 1929. Em 1932 o Bispo de Coimbra pede-lhe para orientar a "Sopa dos Pobres", acabada de criar. Desde logo começou a tomar contacto com a miséria que se vivia naquela cidade.
Certo dia, em 1935, foi convidado para vir a S. Pedro de Alva pregar(1). E foi aí que tudo começou. São palavras suas que a Revista Os Nossos Filhos publicou em 1944:
"Calhou ir a São-Pedro-de-Alva por aquele tempo pregar na igreja do povo ao povo. O Prior da Freguesia quer que eu vá mais ele visitar o edifício onde instalara uma escola nocturna. Era uma sala rasgada, com dependências anexas. Das amplas salas via-se pousar o céu na Serra do Caramulo e na Estrela gigante. Olhei as quebradas dos montes, mai-los campos em redor. Indaguei distâncias de água, índole do povo, facilidades de pão; e debrucei-me no peitoril da janela, a olhar...Vi o Beco do Moreno, a cama do artista doente, os quatro filhos sem pão. Não sei que me deu no peito, que o prior quis saber o que eu tinha! Uma paixão, exclamei: e falei à moda dos apaixonados que procuram o triunfo nos sacrifícioas e o êxito na verdade. Fiz uma descoberta no Beco-do-Moreno, disse: quero realizar aqui o meu pensamento, revelei. Ele disse-me que sim."
Passou-se isto em Maio de 1935 e logo em Agosto, 30 crianças pobres de Coimbra tiveram as suas primeiras férias no campo. As gentes de S. Pedro de Alva tiveram receio daqueles garotos da rua e temeram pelos seus bens.
No seu estilo simples e muito próprio, conta-nos  o Padre Américo:
 "Falava-se em S. Pedro de Alva na colónia aventura. O dedicado prior da freguesia preparou as coisas. O Dr. Coimbra, mandou fazer catres, mesas e mochos na fábrica da Estrela de Alva. O farmacêutico [que seria o Dr. Eduardo Pedro da Silva, velho republicano] dizia aos amigos da botica: que pena ser isto obra de um padre! À chegada, entrei na farmácia como quem vai indagar preços. Daí a nada, sabia-se no lugar do seu enorme espanto: ele não é como os outros padres! Ai! que se todos os padres fossem loucos, muita gente teria juizo! Seduzido pela verdade, ele forma na lista dos donativos e mais do que uma vez, durante a temporada das colónias, oferece o melhor da sua casa, ao garoto do tugúrio."
No entanto, quer de S. Pedro de Alva, quer das terras limítrofes (Paradela, Penacova, S. Martinho da Cortiça, Poiares) começam a chegar géneros e algum dinheiro.No segundo ano da Colónia a recepção foi ainda melhor:
 
"A plateia, que duvidava do sucesso do ano anterior, começa agora a dar palmas e a dizer que sim; e já não tem medo que os garotos da rua assaltem as quintas (…) Aparecem donativos e palavras de encorajamento. Viu-se que a loucura do padre era simplesmente o arrojo de ter feito o que antes ninguém fizera."
Escreveu ainda Américo Monteiro de Aguiar, o "Pai Américo":  
"Não cai um passarinho do céu sem que o pai celeste o saiba - verdade eterna. Parece que fora pregar a S. Pedro de Alva, mas não: fui cimentar as bases do que depois se chamou e hoje é, Colónias de Campo do Garoto da Baixa."
"A ideia já não cabe na estreita casa de S. Pedro de Alva (…) Nem a ideia nem os rapazes cabiam na casa primitiva, onde nasceram os dentes da obra." 
E foi assim que em 1940 abriu a primeira Casa do Gaiato em Miranda do Corvo e a partir daí estendeu a sua missão social e caritativa a outros pontos do país.  
David Almeida
(1) Era Pároco de S. Pedro de Alva, o Pe José Augusto Ferreira Simões e Sousa.

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