15 dezembro 2017

Cartas brasileiras: Uma Coisa Leva a Outra


Estando um dia a pesquisar sobre Gondelim encontrei “Portugal Antigo e Moderno”,  livro publicado em 1886, tendo como autor Augusto Soares de Azevedo Barbosa Pinho Leal.

Curioso, deixando de lado o que me levara até ele, passei a folheá-lo ao acaso, quando me deparei com a Rebelião no Convento de Santa Clara, tema da minha última Carta Brasileira.

Fazendo as folhas correrem encontrei o grande incêndio de Lisboa, as penúrias vividas pela corte, o atentado contra o Rei D. José I, em 1758, e por consequência a desgraça dos Távoras; uma família de nobres executada em praça pública, no mesmo dia, por terem, supostamente, participado do atentado. A Marquesa de Távora, D. Leonor, que foi decapitada, teria dado um pito em seu algoz, reclamou, quando ele tentou afastar o colar que ela trazia no pescoço.

Para saber um pouco mais sobre o rei, um link me levou ao Museu da Torre do Tombo, e após a leitura do que me interessava, vi em uma das abas do site uma chamada sobre a Inquisição em Portugal. Na sequência encontrei o processo contra Hyppólito José da Costa; pela minha ignorância, até então, um ilustre desconhecido.

Logo fiquei sabendo, o brasileiro tinha ido para o cárcere por ser “pedreiro livre”, como se intitulam os maçons. A curiosidade ficou mais aguçada porque um grande amigo pertence a essa confraria. Fui então saber que o “réu” vem a ser o patrono da imprensa brasileira.

Para mostrar por completo o achado ao amigo, me meti a transcrever os 156 arquivos digitalizados do processo, e nisso estou até agora metido.

O português utilizado em 1811, ano em que acontece o julgamento, bem como as caligrafias dos escrivães são dificuldades que enfrenta quem se mete a buscar encrenca, na base de uma coisa leva a outra. E, muitas vezes, nem quebrando a cabeça consegui decifrar o que escreveram.

P.T.Juvenal Santos

Notas:
1)    O arquivo do processo contra Hyppólito José da Costa pode ser visto através do link: http://digitarq.dgarq.gov.pt/viewer?id=4522454
2)      Por exigência da fonte, o desenho da execução, de autor desconhecido, foi obtido em


        

19 outubro 2017

Poetas penacovenses (IV): ... e a nossa beleza ardeu


O Penacova Online tem na sua linha editorial a divulgação do património natural e belezas paisagísticas do nosso concelho. Nesta hora de luto, concelhio e nacional, em que jamais esqueceremos o que vimos naquela manhã de segunda-feira passada, autêntico  "day after" apocalíptico, ao percorrer o alto concelho, tragicamente atingido, dizíamos, nesta hora difícil, associamo-nos ao sentimento de Luís Pais Amante, aqui expresso neste texto intitulado "...e a nossa beleza ardeu".
Foi ontem, num dia trágico
Daqueles que não foi Deus que nos deu
Que nas nossas serras e outeiros verdes
Nas nossas encostas florescentes
O inferno aconteceu
Veio travestido de fogo
Intenso
Em bolas
Empurrado por ventos de maré
Suspenso
Monstruoso
Medonho
Desgovernado
Este incêndio malvado
Corria voraz atrás do tempo da paz
Sacrificando-o
Alimentava-se de tudo quanto lhe aparecia à frente
E, num repente
Cortou-nos o cabelo da beleza natural
Sorveu-nos o sangue bom do suor rural
Empertigou-se como se tivesse vida forte
De estupor
E matou-nos gente amiga com nome sem sorte
Nossos conterrâneos, amigos
Causando-nos muita dor
Consternação
E estupefação
O rasto deste abalo intenso e brutal
Que cheirará por aí a massacre sobrenatural
Não pode ficar escondido sozinho no nosso tempo
Nem esquecido na parte mais íntima do nosso pensamento
Terá que ser sempre lembrado como se fosse um desgraçado
... até porque ele nos ofendeu!

Luís Pais Amante
Telheiras Residence
16Out17, 21h30

Horrorizado com o que se passou na minha terra, Penacova


08 outubro 2017

Pintor João Martins da Costa: depois de Penacova a homenagem em Matosinhos


A primeira exposição retrospetiva sobre a obra do pintor Martins da Costa foi inaugurada ontem em Matosinhos. Até finais de Janeiro pode ser visitada no Museu Quinta de Santiago.


Também o livro “Contos Vividos” foi apresentado ao público “portuense”, depois de ter sido lançado em Penacova em Julho de 2016. Na cerimónia esteve presente Humberto Oliveira, presidente da Câmara de Penacova, entidade que editou a obra, e Álvaro Coimbra, que a partir das crónicas de Martins da Costa publicadas, quer no “Jornal de Penacova”, quer no jornal “Nova Esperança”, idealizou este livro, cuja publicação  contou com o apoio da Família Martins da Costa e a concepção gráfica de Diogo Rocha (OMdesign), neto do artista.

Conforme referiu Helder Pacheco, a obra (e o exemplo de vida deste “homem luminoso”) não pode ficar confinada às colecções particulares, a esta exposição e a este livro. É muito, mas é muito pouco. Deu o exemplo de Júlio Resende e de Nadir Afonso, à volta dos quais existem Fundações e Pólos Culturais, em Gondomar e em Chaves, respectivamente. Neste sentido,  lançou mesmo o desafio para que um projecto semelhante fosse concretizado, precisamente, em Penacova.

Descobrimos nesta exposição João Martins da Costa nascido em Coimbra, habitando no Porto, viajando pelo Mundo, e refugiando-se em Penacova, local onde terá vivido uma infância feliz e cujo abrigo procurou e encontrou, aproveitando as coisas simples da vida, vivendo genuinamente todos os momentos, respirando a beleza pura da natureza.”- escreve  Cláudia Almeida -Museóloga no Museu Quinta de Santiago - no excelente catálogo da exposição que, refira-se, inclui também um texto inédito de Maria Leonor Barbosa Soares sobre a vida e a obra de Martins da Costa.




















05 outubro 2017

Desterritorialização e filiação ao lugar: Aldeia da Luz, Vilarinho das Furnas, Foz do Dão…

Ana Maria Cortez Vaz dos Santos Oliveira apresentou em 2011 à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra uma Dissertação de mestrado em Geografia Humana (Ordenamento do Território e Desenvolvimento), onde estuda os processos de desterritorialização e filiação ao lugar. O seu estudo incide na Aldeia da Luz (Alqueva) mas dedica também um capítulo à Foz do Dão.

Escreve esta investigadora na introdução que “a problemática do processo de desterritorialização é pertinente e actual. “ Salienta também que “o vínculo, a filiação, o apego, o laço que nos une a determinado território está sujeito a riscos que podem ter origem em múltiplos factores e circunstâncias como, entre outros, a guerra, a crise económica, o desemprego, qualquer tipo de confinamento espacial, cheias, sismos, movimentos de vertente ou, como no caso que se analisará neste trabalho, a construção de grandes infra-estruturas, como barragens."
Referindo-se à Aldeia da Luz, afirma que “apesar da velha aldeia ter desaparecido na paisagem, esta continua presente na memória e na identidade das populações.”

O mesmo poderíamos dizer da aldeia da Foz do Dão. Nesse sentido, transcrevemos um excerto, aconselhando a leitura integral e o estudo deste trabalho académico.

“A aldeia de Foz do Dão pertencia à freguesia da Óvoa, município de Santa Comba Dão e foi submersa aquando a construção da barragem da Aguieira. Com Foz do Dão, também as localidades de Breda, Senhora da Ribeira e Barra da Asna ficaram submersas pela albufeira da barragem da Aguieira.
A aldeia de Foz do Dão marcava, como o próprio nome indica, o local onde o rio Dão desaguava no rio Mondego. A sua população tinha como principais actividades a agricultura de subsistência, a extracção de areia e a pesca, principalmente de lampreia e sável.
A barragem da Aguieira fechou as comportas em Junho de 1980, dando-se início ao enchimento da respectiva albufeira e posterior submersão das aldeias.
Figura 16- Foz do Dão, aquando a visita do Professor António Salazar à aldeia.
De salientar que a única infra-estrutura que não foi destruída para a submersão da aldeia foi a ponte.
Fonte: fozdodao.blogspot.com, consultado em Maio de 2010.
[Gravura publicada na  pág. 54 desta Dissertação de Mestrado]
Este processo de quebra da topofilia ocorre na década de (19)80, num período politico bastante diferente do vivido no processo de desterritorialização da população de Vilarinho da Furna, embora ambos se caracterizem por serem ex-situ, colectivos e totais. Isto é, os processos implicaram a deslocação da população, atingiram a comunidade, a sociedade das aldeias, e em ambos os casos, houve uma quebra total do vínculo com o território, dado que as aldeias ficaram submersas. No entanto, também não se registaram intervenções de cariz psicológico ou de auxílio e assistência social às populações desterritorializadas.
Uma nota importante e de bastante valor para as populações sujeitas a processos de desterritorialização é a transladação dos corpos que se encontram nos cemitérios destas povoações que serão submersas. Enquanto que em Vilarinho da Furna não houve transladação do cemitério, em Foz do Dão foi autorizado que os indivíduos que quisessem transladar os corpos dos seus entes para cemitérios mais próximos, o poderiam fazer. Houve assim uma mudança também dos territórios simbólicos.

A população que residia em Foz do Dão procurou assim novos territórios e a reterritorialização passou pelos concelhos vizinhos de Penacova, Mortágua e outras localidades no município de Santa Comba Dão. Foi criado entretanto o Bairro Nova Foz do Dão, em Óvoa, que será o lugar com maior concentração de pessoas naturais e antigos residentes de Foz do Dão.
Ao contrário de Vilarinho da Furna, sobretudo da divulgação através das obras de Jorge Dias e de Miguel Torga, Foz do Dão não serviu de representação para escritores ou realizadores, daí que a informação sobre a aldeia, que está submersa seja muito escassa."

 Aceda à obra integral através do link:

Obra de Martins da Costa vai estar exposta em Matosinhos

Mar Sagrado – Tragédia marítima de 2 de Dezembro de 1947”
 é um das mais de quatro dezenas de obras que compõem a exposição.
No próximo dia 7, pelas 17 horas, vai ser inaugurada, no Museu da Quinta de Santiago, em Leça da Palmeira, a exposição “Martins da Costa… [d]aquilo que fica”. O evento, promovido pela Câmara Municipal de Matosinhos, inclui também, pelas 18 horas, a apresentação do livro “Martins da Costa, Contos Vividos”, obra lançada em 23 de Julho de 2016 em Penacova.
“Mar Sagrado – Tragédia marítima de 2 de Dezembro de 1947” é um das mais de quatro dezenas de obras que compõem a exposição.
O site do Município de Matosinhos adianta que a exposição tem um carácter retrospectivo e abarca cerca de cinco décadas da produção artística de Martins da Costa, entre a década de 1940 e o final do século XX.

Refere também que a exposição – que ficará patente até 28 de Janeiro – reúne obras dos acervos do Museu Nacional de Soares dos Reis, do Museu da Faculdade de Belas Artes do Porto, do Museu Municipal de Coimbra, da Câmara Municipal de Matosinhos e de alguns coleccionadores particulares, incluindo trabalhos de pintura e desenho.

Imagens do Penacova Online
publicadas aquando do lançamento do livro em Penacova

04 outubro 2017

Breve apontamento sobre a proclamação da República em Penacova

A versão corrente dos acontecimentos sobre a implantação da República em Penacova passa, geralmente, pelo relato feito pelo Jornal de Penacova de 8 de Outubro de 1910 e pouco mais. Poder-se-á invocar o Auto de Aclamação onde constam algumas dezenas de assinaturas de muitos penacovenses. Um pouco tidos quase como lendários, poderão ainda ser referidos alguns episódios inusitados como aquele em que Amândio Cabral subiu por uma escada ao telhado dos Paços do Concelho para bem alto içar a bandeira verde-rubra. 

Além do relato oficial que podemos encontrar, quer nas actas das sessões dos órgãos municipais, quer noutros documentos dispersos, dispomos ainda de alguns periódicos locais, onde se destaca o Jornal de Penacova, que – apesar do seu carácter partidário, nalgumas fases da sua existência – nos fornece um vasto conjunto de informações que nos permite compreender melhor as dinâmicas duma época que tem como marca fundamental a mudança de regime político. 

Em Penacova, o republicanismo não nasceu no dia 5 de Outubro, ou melhor, no dia 6, quando nesta vila foi conhecida a notícia. Também aqui, o ideário republicano vinha germinando há alguns anos, por acção de homens formados na academia coimbrã, médicos e juristas, de braço dado com emigrantes chegados do Brasil. 

Ainda na vigência da Monarquia (1908) constitui-se a primeira Comissão Municipal Republicana e no dia 1 de Agosto de 1909 tem lugar o célebre comício de S. Pedro de Alva. Com a implantação da República as adesões aumentam, quer pela acção militante dos núcleos de Penacova e de S. Pedro de Alva, quer pela influência discreta de António José de Almeida, que tinha no concelho um grupo de amigos e simpatizantes e uma tribuna privilegiada de propaganda e de mobilização: o Jornal de Penacova. 
(…)
A 12 de Outubro, pelas 16 horas, toma posse uma primeira Comissão Administrativa Republicana, na sequência do Decreto com força de Lei, de 8 de Outubro, dimanado do Ministro do Interior. Comissão que tinha a seguinte composição: Efectivos: António de Seiça Ferrer de Saldanha Moncada, José Alves de Oliveira Coimbra, José Maria Marques, João António de Almeida, Manuel Correia da Silva, José Pedro Henriques e José Augusto Ribeiro. Substitutos: Bacharel Alípio Barbosa de Oliveira Coimbra, Eduardo Pedro da Silva, Francisco da Costa Gonçalves, Joaquim de Almeida Coimbra, Leonel Lopes Serra, Luís Pereira de Paiva e Pita e Urbano Ferreira da Natividade. 

Preside à reunião José Pedro Henriques, por ser o mais velho dos presentes e ser habitual este procedimento. Uma vez realizado o escrutínio, Amândio Cabral é eleito presidente, ficando António Moncada na vice-presidência.
(…)
As "mexidas" também se verificaram ao nível das freguesias. Nomeadas pelo Governador Civil, sob proposta do Administrador Amândio Cabral, tomaram posse, nos primeiros dias de Janeiro, as respectivas Comissões Administrativas. Registemos apenas os nomes dos presidentes das mesmas: 
Freguesia de Carvalho: António Simões; Figueira: António Gomes de Carvalho; Friúmes: António dos Santos Carril Júnior; Lorvão: Clemente Luís Ralha; Oliveira: Maximino César Augusto Henriques; Paradela: António Oliveira Neves; Penacova: António Casimiro Pessoa Júnior; S. Paio: José Marques da Fonseca; S.Pedro de Alva: Joaquim de Almeida Santos; Sazes: José Manuel de Andrade; e Travanca: Jerónimo Jacinto Henriques. 

Do livro Penacova e a República na Imprensa Local, editado pelo Município de Penacova em 2011, tendo como autor David Almeida e prefácio do historiador Luís Reis Torgal.

Sobre esta obra pode consultar:





27 setembro 2017

Batalha do Bussaco foi há 207 anos

Muito se escreveu sobre a célebre Batalha do Bussaco. Em jeito de efeméride, aqui fica um mapa retirado do 3º volume de uma extensa obra sobre a Guerra Peninsular:
v. 1. 1807-1809. From the treaty of Fontainebleau to the Battle of Corunna.
v. 2. Jan.-Sept. 1809. From the Battle of Corunna to the end of the Talavera campaign
v. 3. Sept. 1809-Dec. 1810. Ocaña, Cadiz, Bussaco, Torres, Vedras.
v. 4. Dec. 1810-Dec. 1811. Masséna's retreat, Fuentes de Oñoro, Albuera, Tarragona.
v. 5. Oct. 1811-Aug. 31, 1812. Valencia, Ciudad Rodrigo, Badajoz, Salamanca, Madrid.
v. 6. Sept. 1, 1812-August 5, 1813. The Siege of Burgos; the Retreat from Burgos; The Campaign of  Vittoria; The Battles of the Pyrenees.
v. 7. August 1813-April 14, 1814. The capture of St. Sebastian; Wellington's invasion of          France;battles of the Nivelle, the Nive, Orthez and Toulouse


Duque de Wellington
(gravura publicada no referido livro)


24 setembro 2017

Grupo Etnográfico de Lorvão preserva em CD património popular musical

Foi hoje lançado o segundo CD do Grupo Etnográfico de Lorvão tendo como título “louro vão". Recorde-se que já o primeiro trabalho discográfico (1999) - “Lauribano” – remetia para a lenda do “loureiro oco”, em torno da toponímia de Lorvão. A sessão, que decorreu no Claustro do Mosteiro de Santa Maria de Lorvão, contou com a presença do Presidente da Federação do Folclore Português, Prof. Doutor Daniel Café. Também presentes na mesa, o Presidente da Associação Pró-Defesa do Mosteiro de Lorvão, Prof. Doutor Nelson Correia Borges, o Presidente da Câmara Municipal de Penacova, Dr. Humberto Oliveira, a Vereadora da Cultura, D. Fernanda Veiga, o Presidente da Junta de Freguesia de Lorvão, Rui Baptista, e também o Editor, Emiliano Toste.

O trabalho agora apresentado e que dá corpo ao 32º volume da coletânea "Folclore Português" inclui vinte temas do repertório do Grupo: CANÇÃO DOS PALITOS, VERDE GAIO DE LORVÃO, MALHÃO DE LORVÃO, AS TRÊS MARIAS, VIRGEM QUERIDA, SÃO JOÃO DE LORVÃO, VIRA DA TI PITORRA, AI LI, AI LI, AI LÉ, VIRA DE LORVÃO, SENHOR LADRÃO, OH QUE PRAIA TÃO LINDA E TÃO BELA, VIRA ESPANHO, LESTALADO, CANTAR AO MENINO, ACORDAI, GLÓRIA IN EXCELSIS DEO, PASTORINHOS DO DESERTO, INFANTE SUAVÍSSIMO, JANEIRAS e MORENINHA.

“Durante séculos ecoaram no estreito Vale de Lorvão as vozes das monjas de S. Bernardo, entoando no coro do seu mosteiro os ofícios divinos, acompanhados pelo som mavioso e potente do órgão, desde ainda antes do dia clarear até o silêncio da noite tudo envolver. Como podiam ficar indiferentes as gerações de Lorvanenses a esta educação musical, a este excitar do sentido auditivo?” - lê-se no folheto que acompanha o CD. 

Continuando a leitura deste texto assinado pelo Professor Nelson Correia Borges percebemos ainda melhor as raízes musicais das gentes de Lorvão, bem como a razão de ser de todo este projecto que conta já com quase três décadas de existência:

“O gosto pela música e pelo canto tornou-se quase genético. As gentes de Lorvão notaram-se pelo seu gosto de cantar, pelas vozes e pela capacidade de tudo lhes “ficar no ouvido”. A própria maneira de falar refletia este gosto pela frase musicada.” 
Foto retirada da "contracapa" do CD

“O património popular musical de Lorvão é uma riqueza pouco vulgar: cantigas religiosas e profanas, cantigas dançadas que atravessaram gerações e seria lastimável deixar cair no esquecimento. Por isso se constituiu o Grupo Etnográfico de Lorvão que mediante um aturado e profundo trabalho de pesquisa e de reconstituição é o garante da preservação deste património imaterial, que mais do que nenhum outro, define e individualiza a mulher e o homem de Lorvão. E neste mundo em transformação cada vez mais acelerada é importante que as gerações vindouras possam construir o futuro sobre raízes solidamente alicerçadas no nosso chão.”

A poucos meses do Ano Europeu do Património Cultural 2018 em que iremos, com mais insistência, ouvir falar da “ligação das pessoas e das comunidades com o seu património, as suas tradições e os seus saberes” e da necessidade de promover cada vez mais todo um conjunto de “estratégias de desenvolvimento local na perspetiva da exploração do potencial do património cultural”, o lançamento deste trabalho vem, antecipadamente, alimentar a esperança e mesmo a certeza de que muito disso é possível, quando uma comunidade (pessoas, instituições, poderes autárquicos) adquire consciência dos seus valores culturais e trabalha no sentido de os conhecer, proteger e conservar.


Fotos: Penacova Online


13 setembro 2017

Poetas penacovenses (III): Mont’Alto - memórias poéticas de Luís Amante

Foto de Luís Amante, publicada no
Penacova Actual
Mont’Alto


É para a colina que nos encima

Que corremos hoje

E a festa que ali se manifesta

Dar-nos-á prazer e recordação, depois

Levamos farnel às costas ou à cabeça

Água, vinho a granel, broa e panados

Enrolados em papel

Chouriço, febras para assar, tremoços

Bacalhau em pastel

Limonada

Laranjada

Tudo misturado com boa disposição

As moças, no caminho,

Vão “agarradas“ às saias das mães

Mas há outras que lhes fogem e ficam mais à frente

… De repente

Os rapazes aproveitam para as tentar seduzir

Elas ficam tão nervosas que só lhes dá para rir

O nosso Mont’Alto é uma romaria cristã

Centenária

O local é ermo durante quase todo o ano

Só se lhe conhece um vizinho sonhador

Chamado Aviador

Mas o Jovem não se esquece

Do tempo que ali se aquece na manifestação pagã

As toalhas à chegada são bem estendidas no chão

Mais à sombra ou mais ao sol pr’a passar a Procissão

Esta decorre alinhada logo a seguir à missa

Que por vezes é cantada pelo coro sem preguiça

As vendas são apregoadas

As fogaças leiloadas

Os donativos cumpridos

Até que o baile começa antes que ali anoiteça

E todos se vão embora

Ano, após ano, religioso ou profano

Esta vai sendo a nossa boa sina

enquanto Povo

Manter lá alto, na ermida, as tradições

Cozinhar - e regar - cá em baixo as ilusões

Porque isso nos ensina!


Luís Pais Amante
Telheiras Residence
8 Set 17, 19:30

Lembrando uma romaria popular a que ia antes de vir

para Lisboa, agora recordada pelo Prof. David Almeida, que muito estimo.

08 setembro 2017

Travanca: Jardim de Infância assinalou 40 anos ao serviço das crianças

Recorte de notícia  de "A Comarca de Arganil" (7/9/2017)
cujo texto se transcreve a seguir:

Em 14 de Setembro de 1976 abriu em Travanca do Mondego o primeiro Jardim de Infância do concelho de Penacova. Numa época em que a educação pré-escolar era uma novidade nos meios rurais, o Padre António Oliveira Veiga e Costa, atento aos problemas sociais das paróquias que há pouco lhe haviam sido confiadas, tomou em mãos uma obra pioneira e que acabaria por revolucionar a freguesia de Travanca e principalmente o Alto Concelho de Penacova.  As dificuldades iniciais foram vencidas. O Jardim de Infância, que abriu com 25 crianças, passados 5 anos contava já com 40. Entretanto o Centro Paroquial de Bem-Estar Social de Travanca do Mondego ia alargando a sua acção a outras vertentes educativas e culturais: colónias balneares, escola de música, grupo etnográfico, biblioteca, escutismo, grupo coral… Também a criação da Telescola, nos anos 70, por iniciativa daquele sacerdote, completava a dinâmica cultural e educativa que a freguesia estava a viver. Um vasto conjunto de iniciativas que marcaram indelevelmente não apenas Travanca do Mondego mas todo o concelho de Penacova.
Ao terminar o ano lectivo 2016/2017 o Jardim de Infância promoveu, como vinha sendo habitual, a sua Festa de Encerramento. Dado que se assinalavam 40 anos de funcionamento, o Centro Paroquial decidiu alargar o convite a todas as famílias, bem como à Câmara Municipal, Junta de Freguesia e Associação Recreativa e Cultural.
O Encontro-Convívio teve lugar na tarde do dia 16 de Julho. A festa iniciou-se com a actuação das crianças do Jardim de Infância e entrega de diplomas aos “finalistas”. De seguida, o Dr. David Almeida dirigiu-se, em nome da Direcção, a todos os presentes, começando por cumprimentar, de um modo especial, o Dr. João Azadinho, vice-presidente da Câmara e o Sr. Luís Pechim, Presidente da União de Freguesias de Oliveira e Travanca. Saudou ainda todos os elementos do Grupo “Cantar Travanca do Mondego” e do Grupo “Trigo Maduro”, de Figueira de Lorvão, que generosa e simpaticamente se disponibilizaram para dar ainda mais brilho ao programa, que desde a primeira hora se pretendeu que fosse muito simples.
Numa breve alocução, aquele membro da Direcção evocou três palavras, que no seu entender, deveriam ser sublinhadas: Encontro, Memória e Gratidão.  Encontro de gerações, encontro de atuais e antigos “alunos”. Encontro de pessoas, de instituições, de famílias, que ao longo de quatro décadas acarinharam este projecto. Memória de acontecimentos e de pessoas, recordações emotivas de muitos e bons momentos que aqui se viveram.  Gratidão, em primeiro lugar, “para com o grande obreiro do Jardim de Infância, o Senhor Padre Veiga” não esquecendo as pessoas já falecidas que com ele colaboraram de perto no arranque do Jardim: os senhores Eduardo Videira, José Martins dos Santos, Joaquim Fernandes, António Alves Rodrigues e José Duarte Ramos. Foi também recordado o Dr. Eurico Almiro Menezes e Castro, recentemente falecido, e que foi sempre um grande amigo e admirador desta obra e dos seus promotores.

De registar ainda uma palavra de agradecimento às entidades que ao longo destes anos apoiaram o Centro e de um modo especial o Jardim de Infância “reconhecendo sempre o alcance social desta obra e depositando total confiança nos seus responsáveis.”  Gratidão também “para com todas as pessoas que trabalham e trabalharam no Jardim de Infância, quer a título voluntário, quer com vínculo laboral.” Nesse sentido foi, de seguida, prestada uma singela, mas sentida homenagem à actual Educadora de Infância, Celeste Costa, e às suas colaboradoras, Ismália Ferreira, Luísa Duarte e Isabel Santos, “reconhecendo a sua dedicação, o seu empenho e o seu profissionalismo”, conforme ficou gravado nas placas de homenagem que lhes foram oferecidas. Não tendo sido possível reunir todas as pessoas que passaram pelo Jardim de Infância, para elas foi um sentido bem-haja. O reconhecimento e a homenagem estendeu-se também a um travanquense radicado em França, “ao distinto Benemérito, Sr. Júlio Gonçalves Viseu, um Português no Mundo, um Amigo da sua terra” que ao longo dos anos sempre, com a sua inexcedível generosidade, se disponibilizou para apoiar o Jardim de Infância. E, falando de gratidão, é de referir que fica em falta uma justa homenagem à pessoa que durante 40 anos dedicou a sua vida ao bem-estar das centenas de crianças que frequentaram o Jardim de Infância. Falamos da D. Palmira Gonçalves Viseu. Apesar de já ter sido, oportunamente, homenageada pelo Município de Penacova e pela Junta de Freguesia, a paróquia fica-lhe ainda a dever esse gesto.      

O encontro prosseguiu com um lanche partilhado no Adro da Igreja, onde não faltou o porco no espeto e o refrescante fino e contou com a presença de muitas famílias e também do Sr. Presidente da Câmara. Apesar de se perspetivar a curto prazo o encerramento do Jardim, por falta de inscrições, o são convívio, a boa disposição e a amizade, não deixaram de estar presentes.