25 julho 2016

Luís Reis Torgal distinguido com Medalha de Mérito Científico

O Professor Doutor Luís Reis Torgal foi distinguido recentemente com a Medalha de Mérito Científico, atribuída pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. A cerimónia teve lugar no dia 4 de Julho, integrada no Encontro Ciência 2016 que se realizou em Lisboa.

O galardão foi atribuído a 12 investigadores portugueses considerando as suas “elevadas qualidades profissionais e de cumprimento do dever”, e sobretudo “por se terem distinguido por um valioso e excepcional contributo para o desenvolvimento da ciência ou da cultura científica em Portugal”. Além de Reis Torgal a Medalha de Mérito Científico foi atribuída às seguintes personalidades: Arsélio Pato de Carvalho - Neurociência, Carlos Bernardo - engenharia de Polímeros, Claudina Pousada – Área da Genómica, João Lopes Baptista - ciência dos Materiais , João Sentieiro - Robótica, Miriam Halpern Pereira - História , Nuno Portas - Arquitectura , Odete Santos Ferreira - investigação sobre SIDA e Pedro Guedes de Oliveira - Eletroencefalografia. Luís Reis Torgal distinguiu-se na sua carreira de historiador “com contribuições significativas para a investigação em história contemporânea.”

Profundamente ligado ao concelho de Penacova, podemos ler na página electrónica do Município uma breve resenha do seu percurso académico: “Professor Catedrático aposentado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, pertenceu ao Instituto de História e Teoria das Ideias, tendo dirigido, entre outras publicações, a Revista de História das Ideias e a revista Estudos do Século XX. Coordenador de investigação do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra (CEIS20), de que foi fundador, e membro de numerosas sociedades científicas, Reis Torgal, dedica-se, enquanto historiador a vários temas do séc. XX português, destacando-se o Estado Novo e a República. Autor de inúmeras publicações, foi vencedor do Prémio Joaquim de Carvalho da Imprensa da Universidade de Coimbra pela obra Estados Novos, Estado Novo e Prémio de História Contemporânea da Academia Portuguesa de História pela Fotobiografia António José de Almeida e a República, editada em parceria com o município de Penacova."

Felicitamos o Professor Doutor Luís Reis Torgal por esta Honrosa Distinção e regozijamo-nos com mais este importante reconhecimento do seu trabalho de investigador e historiador.


Fontes:



18 julho 2016

No rescaldo da razão de ser do Feriado Municipal

PENACOVA E ANTÓNIO JOSÉ D'ALMEIDA


A figura de António José de Almeida terá constituído o principal fio condutor do movimento republicano em Penacova. A força da sua influência começa a sentir-se enquanto jovem estudante em Coimbra e prolongar-se-á até à sua morte (e para além dela) sendo sempre acarinhado e admirado por um largo sector de republicanos que fizeram a apologia intransigente do seu percurso político. Figura tutelar das movimentações republicanas em Penacova, sem ele, estamos convictos, o republicanismo não teria alcançado, também neste concelho, a dimensão e a projecção que todos conhecemos.

1890: o seu pai, José António de Almeida, à época presidente da Câmara de Penacova, adere ao Partido Republicano. Com o filho preso na cadeia de Coimbra declarou em plena sessão camarária que “nunca tinha pensado que na idade de setenta anos e que tendo empregado na maior parte deles” as suas forças ”na sustentação e defesa da monarquia e liberdades pátrias”, se havia de fazer Republicano. E justifica: “Realizou-se este pacto desde que, no dia vinte e cinco de Junho último, vi que uma sentença injustificadamente rigorosa condenava em três meses de prisão o meu filho António José d’Almeida, arrancando-mo dos braços e aferrolhando-o na cadeia pública”.

João Gama Correia da Cunha, que fora professor de António José de Almeida na escola primária de S. Pedro de Alva, escreveu uma carta, datada de 24 de Julho de 1890, no momento em que o seu ex-pupilo se encontrava preso. Foi publicada no jornal de Coimbra ”A Oficina”. Aí afirmava: ''muito há a esperar da ilustração e boa vontade deste rapaz (...) Homens como ele não aparecem todos os dias. O tempo se encarregará de mostrar que isto não é lisonja, nem ilusões dum insensato.''

1907: Alípio Barbosa Coimbra (republicano convicto, médico e fundador da Cerâmica Estrela de Alva), na edição de 20 de Julho de 1907 do Jornal de Penacova, pergunta: ''Que melhor patrono poderíamos ter, que esse patrício ilustre, grande pelo coração e ainda maior pela energia da sua vontade e pelo fulgor da sua inteligência? Damos-lhe a ele, o grande tribuno republicano dr. António José d'Almeida a satisfação íntima de ver a sua terra natal caminhar na vanguarda das hostes republicanas''.

O dia 1 de Agosto de 1909 ficou marcado pelo grande comício em S. Pedro de Alva. Apesar do alheamento de alguns sectores políticos locais e até da afronta dos monárquicos mais radicais, a presença de António José de Almeida marcou as gentes desta região. Cerca de três mil pessoas terão estado naquela manifestação republicana onde usou da palavra, a par de outras proeminentes figuras republicanas.

A sua carreira política, designadamente o cargo de Ministro do Interior no Governo Provisório, foi largamente noticiada no Jornal de Penacova. “Orgulho do nosso concelho que só agora começa a fazer-lhe a devida justiça, apóstolo acérrimo e defensor máximo da Liberdade” – escreve aquele periódico a 29 de Outubro de 1910.

Durante o ano de 1912, o mesmo jornal irá dar grande ênfase à criação do Partido Evolucionista, em ruptura clara com o partido de Afonso Costa. A iniciar o ano de 1914, António José de Almeida que habitualmente escreve para o Jornal de Penacova, questiona a governação do Partido Democrático (Afonsista): ''Esta República como no actual momento se encontra é má? Sem dúvida. Podemos mesmo, leitor, sem forçar a expressão do vocábulo, chamar-lhe péssima.” Deixa também o apelo: ”Não te fiques nirvanicamente nas queixas e nos lamentos. Trabalha, mexe-te, congrega-te, conjura-te e anda para a frente''.


A exaltação da figura de António José António de Almeida continuará a ser uma constante nas páginas do Jornal de Penacova. Sobre o comício que teve lugar no Teatro Avenida em 1914, na edição de 4 de Julho de 1914, afirma-se que a "jornada de Domingo" constituiu "um verdadeiro dia de triunfo para o Partido Republicano Evolucionista".

O sentido patriótico e a assumpção das responsabilidades governativas de António José de Almeida nunca passaram ao lado dos republicanos penacovenses. O facto de este ter assumido a Presidência do Ministério e a pasta das Colónias no governo da ''União Sagrada'', foi largamente noticiado no jornal Ecos de S. Pedro de Alva de 1 de Abril de 1916. Este periódico preenche a totalidade da sua primeira página com fotografia de Bernardino Machado, ladeado por António José de Almeida e Afonso Costa. A encimar, o título: ''Em defesa da Pátria – Unidos pelo Dever''.

Em 1919, António José de Almeida é eleito Presidente da República. Tal facto foi motivo de orgulho ainda maior para Penacova: “Foi eleito Presidente da República o sr. dr. António José d’Almeida, nosso ilustre conterrâneo! Ele é a alma da Pátria! Ele é a Vida da República! Ele é a honra de um povo! Viva o sr. dr. António José d’Almeida!- regista em grandes parangonas de capa o Jornal de Penacova. Eleito pelo Congresso em 6 de Agosto, exercerá o cargo até ao dia 5 de Outubro de 1923. Foi o único Presidente que, na I República, levou até ao fim o seu mandato.

Morreu a 31 de Outubro de 1929. O quinzenário A Voz de S. Pedro de Alva prenche integralmente a capa da edição de 16 de Novembro com a notícia: ''A Pátria e a República em Crepes: morreu o Dr. António José de Almeida”.

O mesmo jornal não se cansará de enaltecer este seu ilustre conterrâneo, recordando que este grande "apóstolo da Democracia tinha um altar em todos os corações portugueses''. A morte de António José de Almeida também é notícia na edição de 2 de Novembro do Jornal de Penacova. Eduardo Silva, que era, à data, o redactor deste periódico, escreverá: “O dr. António José de Almeida era nosso conterrâneo. Nasceu além, na freguesia de S. Pedro de Alva, num lugarzito, lindo e pitoresco, que se chama Vale da Vinha. Lá está o seu solar que nos desperta lembranças da sua mocidade indómita de combatente pelo ideal republicano, desde os seus mais verdes anos.[…] Foi um grande português, homem de uma honestidade intransigente, a sua vida não teve mancha a diminuir o seu valor e o seu prestígio, o seu carácter de fino e puro quilate esteve sempre de pé”.

Com o 25 de Abril, depois ter sido, durante muitos anos, directa ou indirectamente silenciada, a figura de António José de Almeida é novamente exaltada. A devida homenagem ocorreu em Penacova no dia 5 de Outubro de 1974 e passados exctamente dois anos, foi descerrado um busto (da autoria de Cabral Antunes) junto à Pérgola Raul Lino. No mesmo dia, mas em 1997, foi inaugurada uma estátua de António José de Almeida na sede da freguesia da sua naturalidade, S. Pedro de Alva.

Em 28 de Maio de 1976 a Assembleia Municipal de Penacova votou, por unanimidade, a instituição a 17 de Julho do Feriado Municipal, de forma a evocar a vida e a obra deste ilustre penacovense, que a ser vivo, teria completado ontem 150 anos.

15 julho 2016

Foi há oitenta anos: a 15 de Julho morreu em Lisboa Manuel Emídio da Silva

Retrato de Manuel Emídio da Silva (1904)
Columbano Bordalo Pinheiro

 [Amigo de infância de Columbano, Manuel
Emídio da Silva,
deputado e crítico de arte, sob o
pseudónimo de El Mano,
escreveu artigos elogiosos das obras do artista]
Manuel Emídio da Silva faleceu em Lisboa há oitenta anos, em 15 de Julho de 1936.
Por vontade expressa, só no dia do funeral (que se realizou às 11 horas do dia seguinte), os jornais da manhã tornaram pública a sua morte. A Emissora Nacional apenas deu a notícia às 12.30. O Presidente da Câmara, (e director do Notícias de Penacova) José de Gouveia Leitão, mandou içar a bandeira em sinal de luto nos Paços do Concelho.
Sobre a relação de Emídio da Silva com Penacova, o Diário de Notícias escreveu o seguinte:
“Em matéria de turismo deve-lhe ainda, por exemplo, a vila de Penacova, uma das mais pitorescas do país, larga campanha em seu favor. Em troca, a um mirante que ali se erigiu e de onde se descortina sobre o Mondego uma paisagem deliciosa, deu a vila o nome de Manuel Emídio da Silva. Dos "Emídios" se chama também a estrada que liga os vértices Luso-Penacova-Coimbra, do chamado triângulo turístico do centro do país, em louvor popular do seu nome e de Emídio Navarro, o primeiro que deu fundos para a sua construção."
"Manuel Emídio da Silva - regista o jornal Notícias de Penacova, de 25 de Julho, nº 210- era inteiramente desconhecido em Penacova há pouco mais de trinta anos. Vindo a esta vila de passagem para visitar o Convento de Lorvão ficou de tal maneira extasiado com as paisagens de Penacova que poucos dias depois iniciava no Diário de Notícias uma intensíssima propaganda em favor delas. Por influência sua, incluiu a Sociedade de Propaganda de Portugal a vila de Penacova no número das terras do país que mereciam ser visitadas."
Adianta ainda este periódico: "Promoveu ele a abertura de uma subscrição entre os Penacovenses para a construção do Mirante que projectara. Foi o principal subscritor e ofereceu ainda a planta para a construção que foi elaborada a seu pedido pelo notável arquitecto Nicola Bigaglia."
Mais tarde, em 1916 veio do Luso a Penacova acompanhado do engº Vasconcelos Correia, então director da Sociedade de Propaganda de Portugal. Esta visita estará relacionada com o facto de, algum tempo depois, vir a Penacova o grande arquitecto Raul Lino escolher o local para a construção da Pergola "que a expensas daquela benemérita sociedade foi construída no largo Alberto Leitão e inaugurada em 1918."
Sobre a influência de Emídio da Silva, recorda o Notícias de Penacova, no Governo Provisório (1910), sendo Brito Camacho Ministro das Obras Públicas, foi dotada com verba de 3 000 escudos a estrada de Penacova para Corta Montes. "Sempre a instâncias de Emídio da Silva esta obra foi sendo dotada e quando se deu o golpe de 1926 faltavam apenas construir cerca de dois quilómetros. A parte do concelho da Mealhada já estava construída a instâncias de Emídio Navarro." A título de curiosidade acrescente-se que a Câmara Municipal "em testemunho do reconhecimento resolveu colocar na sala nobre dos Paços do Concelho os retratos daqueles dois beneméritos" - Emídio da Silva e Emídio Navarro.

09 julho 2016

Combatentes de Penacova: morto em combate em 1973 só em 1988 foi sepultado

Tenente Coronel Almeida Brito
José Fernando de Almeida Brito nasceu a 27 de Março de 1933 em Lisboa. Filho de Serafim Oliveira Brito (Tenente) e de Maria Teresa Almeida Brito, naturais de Quintela, S. Pedro de Alva. Completou o Curso Liceal em Coimbra e ingressou na Escola do Exército, completando, aos 20 anos, o Curso da Academia Militar. No ramo da Força Aérea serviu na Base da Ota, em Monte Real, em Luanda e em Bissau.

Atingiu o posto de Tenente Coronel. Em 28 de Março de 1973, [um dia depois de ter feito 40 anos] sendo Comandante do Corpo Operacional da Guiné, o avião que pilotava foi atingido por um míssil. Só passados 15 anos foram encontrados os restos mortais. Em 27 de Maio de 1988 teve lugar o funeral, com honras militares, para o cemitério de S. Pedro de Alva.

O seu nome encabeça a lista de combatentes no Memorial erigido em Penacova.
Diário de Notícias (31/3/1973); Comarca de Arganil
(3/4/1973) e Nova Esperança ( 25/7/1988)


Em cima, o míssil terra-ar Strella que abateu avião e piloto.

Em baixo,o que restou do Fiat G91-R4 nº 5419 

Do blogue "especialistasdaba12":

Notícia publicada no jornal "Diário de Notícias" do dia 31.3.1973

"O comandante-chefe das Forças-Armadas na Guiné anunciou que um avião "Fiat G-91"foi ontem abatido em combate,por um foguetão terra-ar lançado da Republica da Guiné,quando sobrevoava território português em missão de reconhecimento,no sul da província. O aparelho,pilotado pelo Ten.Cor.Pilav.José Fernando de Almeida Brito,explodiu no ar.O Piloto pareceu.O Ten.Cor.Almeida Brito,nascido a 27 de Março de 1933 em Lisboa,concluiu,em 1953,o curso de aeronáutica militar na Escola do Exército.Em todos os cursos que depois,ao longo da sua carreira militar,alcançou as mais elevadas classificações.Alferes em 1954,tenente em 1956,capitão em 1958 e major em 1963,foi promovido ao posto actual em 1968.Era condecorado com duas medalhas de Serviços Distintos com palma,por feitos em combate,com a medalha de Mérito Militar de 3ªClasse e com a medalha comemorativa das campanhas das Forças Armadas Portuguesas em Angola e na Guiné.

Da sua folha de serviços constam ainda numerosos louvores e referências elogiosas.Estava proposto,pelo comando-chefe das Forças Armadas da Guiné,para a medalha de oiro de Valor Militar,com palma,pelo"relevante contributo prestado para o êxito do esforço de guerra no teatro de operações da Guiné,onde executou centenas de acções operacionais sempre evidenciando extrema perícia,grande coragem,energia e desprezo pelo perigo,sobretudo em duas,ao prosseguir com a maior serenidade o cumprimento das suas missões,apesar das aeronaves que pilotava terem sido seriamente atingidas pelo fogo inimigo."

Profundo conhecedor das características técnicas dos modernos aviões,marcou gerações e gerações de pilotos que instruiu e comandou.

Na Guiné Portuguesa,onde há cerca de três anos servia,no comando de acções independentes da Força Aérea e,ainda,em operações conjuntas coa as forças de superfície,muitas vezes com risco da própria vida."

Eu tinha chegado à Guiné havia quatro dias,quando no dia 28 de Março da parte da manhã,em conjunto com o colega Lopes,dado sermos os mecânicos de serviço à linha da frente,demos saída a uma parelha de aviões preparados com bombas. Num seguia o Cap.Pilav.Pinto Ferreira e no outro o Ten.Cor.Pilav Almeida Brito,comandante do Grupo Operacional.

Esperamos pelo regresso das aeronaves, quando já um pouco com atraso para o tipo de missão ouvimos e vimos surgir um dos aviões, o outro viria a seguir, pensamos nós... Quando recebemos o avião perguntamos ao piloto se o outro demorava muito, a resposta surgiu tipo bomba:

- O outro não vem mais!...

Dadas as características da zona e a intensificação dos combates, não foram feitas tentativas de encontrar os destroços, quer por parte das forças terrestres quer da FAP.

Arnaldo Sousa

***
OBS: A título de curiosidade: lembramo-nos dos voos rasantes que por vezes fazia sobre Quintela, porventura como cortesia aos seus conterrâneos, nos anos 60, o que nos provocava um misto de admiração e de profundo medo, ali bem perto, nos Covais de Travanca.








05 julho 2016

CARTAS BRASILEIRAS: Nem Deus



Dia mais quieto; sem luz, sem chuva, escuro, triste. O neto de férias, é julho.

No apartamento só o silêncio. Longe de mim a reclamação de choramingas. Ainda assim...

Da sacada do apartamento, a visão cada vez mais curta, o horizonte mais perto. Santo Deus! Prédios e mais prédios, bem diferente de há vinte anos na nova morada de então. Aí que medo, cadê a visão do meu pôr do Sol?


Sobre a mesinha o jornal do dia: “Juno em Júpiter”. O homem com os olhos no infinito; eu míope. Incrível, uma demora de cinco anos desde o lançamento. Longo tempo, mesmo com o maior planeta do sistema solar distante apenas 48 minutos-luz da Terra. Apenas!

Na página esportiva: Portugal e País de Gales, França e Alemanha; semifinalistas. Na minha cabeça o vexame daqui: Brasil fora da Copa América bem antes das quartas de final.

Os jornais da tv com repetidas notícias: Inglaterra - Brexit! Hillary Clinton x Donald Trump.

Ataque terrorista! Assustador.

Por que novamente?

Como saber; nem Deus.

P.T.Juvenal Santos – ptjsantos@bol.com.br




01 julho 2016

O Paço dos Duques do Cadaval em Penacova

Inicialmente eram donatários da vila de Penacova os Condes de Odemira. Esta casa fundiu-se mais tarde, por casamento, com a dos duques de Cadaval e assim ficou a ser donatário de Penacova o Duque de Cadaval. 
Era este Senhor que superintendia em todos os serviços judiciais e administrativos. Nomeava o Juiz e demais funcionários públicos. Tinha em Penacova o seu Paço, com capela anexa (destruído por um incêndio) no sítio onde nos finais do século XIX foi construído o edifício dos Paços do Concelho e onde mais recentemente funcionou o tribunal. O Duque de Cadaval tinha em Penacova o seu capelão e procurador, pois era proprietário de muitas terras, lagares e azenhas, e recebia delas as rendas e foros.
Segundo Virgílio Correia/Nogueira Gonçalves, existirão ainda restos desse palácio "em dois chafarizes, um na estrada de Coimbra e outro na de Figueira". Os dois arcos identificados por aqueles historiadores como sendo do século XV, poderão ter pertencido àquela construção. 

Chafariz da Granja, na N110
Chafariz localizado um pouco acima da Cheira,
 a caminho de Sernelha


29 junho 2016

Os Paços de El-Rei na freguesia de Figueira


Terá existido um Paço Real perto de Monte Redondo?

Ou o topónimo “Paços de El-Rei” não passará de uma “simples denominação da matriz predial rústica e por isso sem interesse algum para o historiador ou arqueólogo?”

A questão foi colocada nos anos cinquenta pelo Padre Manuel Marques, numa das suas crónicas no Notícias de Penacova. A ser verdade, terá existido “na zona conhecida por Paços de El-Rei que fica na linha Mata do Maxial - Monte Redondo, mesmo ao lado da antiga estrada que do Carvalhinho, seguia para Lapa Ruiva, Coimbra e Souselas.”

Conta ele que ainda em rapaz subira “ao alto do cabeço” e qual não foi o seu “espanto” quando encontrou “na extensão de muitos metros quadrados, num local inteiramente rústico e ermo, por entre o mato, uma profusão enorme de cacos e telhas mouriscas partidas.” Fosse o que fosse “ali houvera em tempos idos casas ou quaisquer construções cobertas de telha”-pensou.

De salientar também que “a planura do monte é artificial, não é abaulado, mas perfeitamente nivelado, lembrando um terreno páteo bastante amplo e o xisto à vista sem terra alguma a cobri-lo.”

“Mais tarde – conta Manuel Marques - vim a saber que se chamava Chafariz a uma localidade contígua aos Paços de El-Rei e que para o lado oposto, na vertente voltada para o referido lugar da Mata do Maxial, se denominava Curral das Éguas.”

Foi então que lhe veio veio à mente a ideia de que seria algo mais: “No cimo daquele monte com despenhadeiro para nascente e sul – topografia escolhida pelos castelos medievais – era possível que ali tivesse construído uma Pousada algum dos Reis de Portugal.”

Tratar-se ia dos Paços de El- Rei? Para Manuel do Freixo (pseudónimo com que assinava a crónica Casos & Coisas) as dúvidas acabaram quando, certo dia leu “o treslado do Foral que demarcava o Couto de Monte Redondo, do tempo de El Rei D. Manuel, salvo erro.” O original está na Torre do Tombo no chamado Livro dos Pregos. É que – recorda - “lá se dizia que a linha demarcatória das terras do referido Couto, saindo do marco de Agrelo para a crasta de Botão passava junto dos Paços que tem El-Rei ao lado de Monte Redondo”.



24 junho 2016

S. Pedro de Alva: Alfredo Fonseca apresentou Memórias "Imperfeitas" de um Ex-Autarca

No passado domingo, 19 de Junho, Alfredo Fonseca apresentou na Casa do Povo de S. Pedro de Alva  mais um livro, desta vez intitulado "Memórias Imperfeitas de um Ex-autarca".
Tal como referiu, move-o uma “vontade férrea de deixar escritas as memórias”. Uma atitude corajosa que o levou a escrever, com este, sete volumes, que recordamos: Memórias do Sofrimento (2001); Pegadas dos meus Pés (2006) ; A História do Batalhão de Artilharia 1885 (2010) ; Farinha Podre-S.Pedro de Alva (2011) ;  Os Sãopedralvenses da Diáspora (2012) e  Divagação sobre a Génese das Nossas Gentes (2015).
As "Memórias Imperfeitas de um Ex-autarca" reflectem os 31 anos de vida autárquica na Junta de Freguesia de S. Pedro de Alva, quer enquanto Presidente, quer como Secretário e Presidente da Assembleia de Freguesia.  A apresentação da obra coube ao  ex-ministro da Agricultura Arlindo Cunha.











Na Mesa marcaram presença, além do autor, Pedro Coimbra (presidente da Assembleia Municipal e Deputado), Humberto Oliveira (Presidente da Câmara), António Catela (Vice-Presidente da Junta S. Pedro de Alva / S. Paio, Arlindo Cunha (ex-ministro da Agricultura e ex-deputado europeu), José Costa Ramos (amigo de família) e Estácio Flórido (ex-presidente da Câmara de Penacova).
Arlindo Cunha salientou a importância de que se reveste o “prestar contas” e considerou este livro um “tratado de política local”, bem como   a ”memoria de um homem que amou profundamente a sua terra”. José da Costa Ramos, radicado no Porto, com raízes em S. Pedro de Alva, onde passa habitualmente férias na ancestral “Casa de Mondalva” enalteceu também as grandes qualidades do autor.
Estácio Flórido destacou o grande volume de escrita de Alfredo Fonseca lembrando que “sete livros é uma obra literária notável”, apreciando também  a “linguagem directiva e sintética”. António Catela, do conjunto das obras destacou “Pegadas dos meus Pés” e enquanto autarca em exercício, prestou a devida homenagem ao ex-autarca e ao escritor .  Para Humberto Oliveira, “se há políticos que merecem um especial reconhecimento são os autarcas de freguesia”. Considerou ainda que Alfredo Fonseca “marcou a política em S. Pedro de Alva”depois do 25 de Abril. Pedro Coimbra destacou a “vivência política” a “vida longa de autarca”  bem como a “obra meritória e digna de registo em prol da comunidade”.

Uma das páginas do livro Memórias "Imperfeitas" de um Ex-Autarca

11 junho 2016

CARTAS BRASILEIRAS: Novamente uma abrupta decisão!


Andei sumido. Quem está vivo aparece; dizem que até mortos. Eu hein!

Em 12/01/2013, nesse mesmo cantinho, David de Almeida publicou minha crônica “Ab-rupta decisão”, a respeito do acordo ortográfico de 2009, e que é obrigatório a partir de 2016. O coitado, o acordo, padece de incertezas, e de até questionamentos judiciais.

O título da crônica foi uma provocação, porque, e eu não sei o porquê, esqueceram de contemplar o prefixo “ab”, o que permitiria duas grafias: abrupta e ab-rupta.

O acordo se mostrou manco, por não ter sido ratificado por Angola e Moçambique. Agora os descontentes contam o apoio do peso-pesado, Marcelo Rebelo de Sousa, presidente de Portugal, que admite rever a posição. Um aviso aos mais desatentos: o novo presidente não adotou sequer a ortografia “oficial” em sua campanha publicitária, “Afectos”.

E como ficamos! Enfim, actores da escrita, padecemos de decisões ab-ruptas, seria óptimo que de facto tudo se resolvesse, ou que tudo ficasse como d´antes no quartel de Abrantes.

P.T.Juvenal Santos

05 junho 2016

Produção de Palitos inscrita no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial


A decisão foi confirmada ainda em Fevereiro com a publicação no Diário da República. Entretanto, a Câmara Municipal dá conta deste processo de inventariação no nº 2 do Boletim do Município, saído recentemente. A Ficha de Inventário completa está disponível na respectiva base de dados assim como toda a documentação do referente ao processo de protecção legal.



Refere o anúncio n.º 70/2016, publicado no Diário da República, 2.ª série, n.º 29 11 de fevereiro de 2016:
Inscrição dos «Conhecimentos tradicionais, de caráter etnobotâ- nico e artesanal, utilizados no processo de produção de palitos» (Lorvão, Figueira de Lorvão, Penacova) no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial.
1 — Nos termos do n.º 2 do Artigo 15.º do Anexo ao Decreto -Lei n.º 149/2015, de 4 de agosto, faço público que, por decisão de 29 de janeiro de 2016, a Diretora -Geral do Património Cultural decidiu favoravelmente sobre o pedido de inscrição dos “Conhecimentos tradicionais, de caráter etnobotânico e artesanal, utilizados no processo de produção de palitos” (Lorvão, Figueira de Lorvão, Penacova) no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, apresentado pela Câmara Municipal de Penacova.
2 — A decisão sobre o pedido de inventariação em apreço teve por fundamento, no enquadramento dos critérios de apreciação a que se refere o Artigo 10.º do Anexo ao Decreto -Lei n.º 149/2015, de 4 de agosto:
2.1. — A importância de que se reveste esta manifestação do património cultural imaterial enquanto reflexo da identidade da comunidade em que esta tradição se originou e se pratica; 2.2. — A importância de que se reveste esta manifestação do património cultural imaterial pela sua profundidade histórica, com origens que remontam pelo menos ao século XVII; 2.3. — A produção e reprodução efetivas que caracterizam esta manifestação do património cultural na atualidade, traduzida em saberes e competências técnicas, de caráter etnobotânico e artesanal, transmitidas intergeracionalmente no âmbito comunidade de Lorvão; 2.4. — A importância técnica e científica de que se reveste o pedido de inventariação em apreço, resultado de investigação desenvolvida ao longo de diversos anos pela Câmara Municipal de Penacova, assim atualizando o primeiro estudo em profundidade, de caráter histórico e etnográfico, sobre manifestação do património cultural imaterial, realizado na década de 1980.
3 — A decisão da Direção -Geral do Património Cultural sobre o pedido de inventariação, teve ainda por fundamento: 3.1 — A conformidade do pedido de inventariação com os requisitos definidos conjuntamente pelo Decreto -Lei n.º 149/2015, de 4 de agosto, e pela Portaria n.º 196/2010, de 9 de abril; 3.2 — A ausência de pareceres contrários à conclusão do procedimento de inventariação: a) em sede da fase de consulta direta sobre o procedimento de inventariação, a que se refere o n.º 1 do Artigo 13.º do Anexo ao Decreto -Lei n.º 149/2015, de 4 de agosto; b) em sede da fase de consulta pública sobre o procedimento de inventariação, a que se refere o Artigo 14.º do Anexo ao Decreto -Lei n.º 149/2015, de 4 de agosto; 3.3 — O facto de que o pedido de inventariação resultou da iniciativa da comunidade no âmbito da qual se reproduzem os “Conhecimentos tradicionais, de caráter etnobotânico e artesanal, utilizados no processo de produção de palitos”, tendo em vista a valorização desta manifestação do património cultural imaterial à escala nacional.
4 — Em resultado da conclusão do procedimento de inventariação dos “Conhecimentos tradicionais, de caráter etnobotânico e artesanal, utilizados no processo de produção de palitos” (Lorvão, Figueira de Lorvão, Penacova) a respetiva Ficha de Inventário é disponibilizada publicamente na página eletrónica de acesso ao Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial (endereço web: www.matrizpci.dgpc.pt), para os fins previstos no Decreto -Lei n.º 149/2015, de 4 de agosto.
5 — Conforme previsto no Artigo 18.º do Anexo ao Decreto -Lei n.º 149/2015, de 4 de agosto, a inventariação da manifestação do património imaterial em apreço é objeto de revisão ordinária em períodos de 10 anos, sem prejuízo de revisão em período inferior sempre que sejam conhecidas alterações relevantes, sendo que qualquer interessado pode suscitar, a todo o tempo, a revisão extraordinária do registo de inventariação.
29 de janeiro de 2016. — A Diretora -Geral do Património Cultural, Paula Araújo e Silva.
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Clique no link seguinte para aceder directamente à Ficha de Inventário completa disponível na base de dados do Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, assim como a toda a documentação do respectivo processo de proteção legal.


http://www.patrimoniocultural.pt/pt/news/comunicados/inscricao-dos-conhecimentos-tradicionais-de-carater-etnobotanico-e-artesanal-utilizados-no-processo-de-producao-de-palitos-lorvao-figueira-de-lorvao-penacova-no-inventario-nacional-do-pci/#sthash.OXuCDXjX.dpuf