24 fevereiro 2015

Encontrada há 100 anos a “pedra curiosa” da Livraria do Mondego

Na obra Patrimónios de Penacova – apontamentos para a sua valorização e divulgação, de J. Leitão Couto e David Almeida (e também no livro Penacova, o Mondego e a Lampreia, de Carlos Fonseca e Fernando Correia) refere-se um pormenor, que entre outros,  atesta a importância geológica da “Livraria do Mondego”. Nestas obras são apresentadas imagens da lage de grandes dimensões colectada na zona em 1915.  Esta “pedra” encontra-se exposta no  Museu Mineralógico de Coimbra.  Segundo a legenda “trata-se de um icnofóssil de trilobite semiplicata do Período do Ordovícico da Era Paleozóica.” Nos finais do séc. XIX o prestigiado geólogo Nery Delgado fez importantes estudos nesta região e elaborou mesmo a célebre  Carta Geológica do Buçaco. 
"Bilobites – Vila Nova - Penacova" - assim
identificada no Museu Mineralógico
da Universidade de Coimbra
Naquele ano de 1915, segundo notícia do Jornal de Penacova, quando decorriam as obras da Estrada Real n.º 48 na zona de "Entre-Penedos" foi descoberta “uma pedra curiosíssima com desenhos em alto relevo, que não obstante serem irregulares, são de traço uniforme, de largura aproximada de seis centímetros, em forma de cordão (…) os desenhos ou antes cordões entrecruzam-se, sobrepondo-se no ponto de contacto. A pedra que conseguiu arrancar-se mas fragmentada, mede cerca de 3 metros de comprimento por um e meio de largo e de 20 a 30 cm de espessura.”

Ora, é esta "pedra curiosa" que ainda hoje se pode observar  no Museu Mineralógico e Geológico da Universidade de Coimbra com a indicação "Bilobites – Vila Nova - Penacova".Na altura, o lente de Geologia, Anselmo Ferraz, mandou remover a placa para o museu daquela cidade – diz o referido jornal - para estudo e posterior exposição. Junto do painel de grandes dimensões podemos ler ainda  a seguinte informação: "Cruziana sp. – Marcas da locomoção produziadas pelo movimento de trilobites sobre sedimentos pouco estabilizados. As trilobites deslocavam-se rastejando semi-enterradas no sedimento com ajuda de apêndices locomotores. Pensa-se que estas marcas poderão estar também relacionadas com os métodos de alimentação utilizados pelas trilobites".

Como escreveu Carlos Neto de Carvalho, estudioso destes temas, trata-se de  "janelas temporais" dum mundo "perdido" há cerca de 500 milhões de anos. A propósito, refira-se que o jornalista penacovense, Álvaro Coimbra, o entrevistou aquando da produção de uma reportagem para a Antena1 sobre o Geopark Naturtejo, que inclui o núcleo de Penha Garcia.
Por falar em Álvaro Coimbra,  o local conhecido por “Entre Penedos”, resultante do corte do Penedo João Freire, foi tema do post de em 10 de março de 2014, precisamente no seu blogue “Livraria do Mondego”.

Já o sugerimos na obra acima referida: seria motivo de interesse local e de enriquecimento turístico da zona se uma réplica do original estivesse exposta em Penacova – mais precisamente no local onde há 100 anos foi encontrada. Já só falamos em réplica, partindo do princípio de que dificilmente o original regressaria à origem. 

Até porque cremos  que esta ideia não terá sido ponderada no projeto de preservação do Património Natural da Livraria do Mondego, candidato ao Programa LEADER ADELO, que vai permitir avançar com as obras relativamente às quais em 19 de Novembro passado  foi assinada  a consignação da empreitada. Conforme refere o site da Câmara, “esta empreitada [no valor de 46.473,14 euros] vai permitir preservar, valorizar, dinamizar e promover o território e nomeadamente aquele núcleo geológico, promovendo as acessibilidades a pontos fulcrais que permitam devolver este espaço de excelência natural às populações locais e visitantes”.
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02 novembro 2014

Cartas Brasileiras: Bons Dias! Bom Mês!

Bons dias!

Assim Machado de Assis iniciou algumas de suas crônicas publicadas na Gazeta de Notícias, entre abril de 1.888 a agosto 1.889; isso mesmo, no plural, e por manter contado apenas semanal com os leitores, deseja a todos “bons dias”.
Em uma delas, justificou o cumprimento — “Hão de reconhecer que sou bem criado. Podia entrar aqui, chapéu à banda, e ir logo dizendo o que me parecesse; depois ia-me embora, para voltar na outra semana”.
A saudação inicial em uma chegada ou aproximação, além de polidez, revela nossa cordialidade e apreço. Um “bom dia” recebido de um amigo, quando sabemos das dificuldades que teremos que enfrentar, pode ser o conforto ou força de que tanto necessitamos; quer melhor para começar o dia!
No Vale do Ribeira, terra do meu pai, mantendo até hoje um antigo costume, no primeiro encontro diário com os pais, as pessoas ajuntam as mãos, como se fossem rezar, fazem um leve aceno com a cabeça, e dizem: “bença, pai! bença mãe!” Repetem o gesto ao  final do dia antes de ir para a cama. 
De volta às crônicas de Machados de Assis, aquelas dos “Bons Dias” ele as assinava usando o pseudônimo Policarpo, apresentado como um relojoeiro que havia se desencantado com a profissão.
E eu estou aqui a falar de relógio, eu que sequer use um,  não porque não me prenda ao tempo e nem dê valor a ele; não. É que contando fazendo as contas nas pontas do dedos, vi que minha mãe se viva fosse teria feito 101 anos, e que o tempo levou meu pai já há sete anos, privando-nos para sempre de ouvir o som de sua clarineta.
Então busco consolo escutando “Beguin the Beguine”com Artie Shaw e Orquestra. Ao som da música digo: “Bença pai, bença mãe!”
E  para você leitora ou leitora: “Bom mês!”



 (clique na imagem)

P.T.Juvenal Santosptjsantos@bol.com.br


Obs: crônica reescrita, original publicada 03/08/2010 em O Diário de Barretos

10 outubro 2014

Município de Penacova adquiriu a casa onde nasceu António José de Almeida


O município de Penacova adquiriu a casa onde nasceu António José de Almeida, sexto Presidente da República de Portugal, oriundo deste concelho. "Este sonho era acalentado há várias décadas, sem que nunca se conseguisse atingir o objetivo de o concretizar. Contudo, havíamos feito a promessa de reerguer a casa e o nome deste Presidente, em nome da população penacovense, e por isso a celebração desta conquista deve ser partilhada por todos", referiu Humberto Oliveira, presidente do município.
Foi no âmbito das comemorações da Implantação da República e do 10º aniversário do Museu da Presidência da República, que o município de Penacova celebrou ontem, dia 05 de outubro, pelas 15H00, no Museu da Presidência, a escritura de compra da casa onde, em 17 de julho de 1866, nasceu António José de Almeida, localizada em Vale da Vinha (União das Freguesias de São Pedro de Alva e São Paio do Mondego). António José de Almeida foi um político republicano português, que chegou ao mais alto cargo da nação, o de Presidente da República Portuguesa, cargo que exerceu de 5 de Outubro de 1919 a 5 de Outubro de 1923.


O Museu da Presidência, representado pelo seu Diretor, Diogo Gaspar, associou-se a esta iniciativa da autarquia, estabelecendo uma parceria dinâmica com vista à definição estratégica da utilização da casa e da sua fruição pública. Presentes na cerimónia estiveram, para além de representantes da Casa do Concelho de Penacova em Lisboa, também José António de Almeida Abreu, neto de António José de Almeida.
Após a assinatura do contrato de compra, o Executivo Municipal que se fez acompanhar neste ato pelo Presidente da União das Freguesias de São Pedro de Alva e São Paio do Mondego, foi recebido pelo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, que congratulou o município pela iniciativa, desejando o maior sucesso ao futuro da casa.
No final da tarde, o Executivo Municipal penacovense, acompanhado pelo Presidente da Junta de Freguesia do Lumiar, Pedro Delgado Alves, e muitos penacovenses residentes em Lisboa, prestaram homenagem a António José de Almeida, depositando junto à sua estátua uma coroa de flores.

Conforme realçou Humberto Oliveira, "este era o passo imprescindível para que se intervenha na requalificação da casa e se faça viver nela todo o simbolismo histórico e político que representa António José de Almeida. A população de Penacova vê assim assegurada, com o esforço do seu município, a preservação da sua história e a vontade de perpetuar os seus símbolos, que orgulham a nossa gente".

TEXTO E FOTO 1: SITE da Câmara Municipal de Penacova. 

Nota: Congratulamo-nos vivamente com este facto. Veja texto publicado no Penacova Online de 5 de Outubro de 2023

23 setembro 2014

Cartas Brasileiras: garrafa com mensagem



Não sei como o leitor ou leitora  chegou aqui; tampouco sei quem é e de onde vem.  Nem mesmo sei por qual caminho,  sei somente que caminhando pela margem do rio acabou por encontrar a garrafa, e que ao abri-la leu a mensagem que nela havia:




Como tudo agora é tão moderno, verá que a mensagem está escrita em azul, a indicar que "clicando" no texto será direcionado a um vídeo.
Se vendo o vídeo achar que ele nada signifique para você ou que o/a comova, por favor, coloque novamente a garrafa no rio, talvez logo mais à frente um outro caminhante possa encontrá-la, quem sabe dela necessite. Boa viagem!


(clique na imagem para ver o vídeo)
P.T.Juvenal Santos


21 agosto 2014

Cartas Brasileiras: amando ou brigando por cartas

Amando ou brigando por cartas
Dizer que antigamente era assim pode dar a impressão de algo muito afastado no tempo, quando na verdade o passado está logo ali; quarenta, cinquenta, sessenta anos! Pois é, como antigamente a paixão distante era curtida e mantida na base das cartas, nas juras eternas de amor, o anúncio do rompimento, as lágrimas pela separação passavam também pelo correio. Se assim era na vida, não havia como a música popular não retratar esses momentos, daí existirem vários registros dessa época eternizados pela música.
“Devolvi” é uma dessas preciosidades, gravada primeiramente por  Nelson Gonçalves (1919-1998), cantor de muito sucesso nas décadas de 40, 50 e 60, sendo ainda apreciado pelos mais velhos. O autor português, Adelino Moreira de Castro (1918-2002) nasceu em Covêlo e faleceu no Rio de Janeiro. 
“Devolvi o cordão e a medalha de ouro / E tudo que ela me presenteou /Devolvi suas cartas amorosas / E as juras mentirosas / Com que ela me enganou. / Devolvi a aliança e também seu retrato/ Para não ver o seu sorriso /no silêncio do meu quarto...”
Mensagem” de Aldo Cabral e Cícero Nunes, composta em 1946 foi gravada inicialmente por Isaura Garcia, mais conhecida como Isaurinha Garcia (1923 -1993), uma das maiores cantoras brasileiras, a Edith Piaf brasileira.
“Quando o carteiro chegou/ E o meu nome gritou / Com uma carta na mão / Ante a surpresa tão rude / Nem sei como pude / Chegar ao portão / Vendo o envelope bonito / E no seu sobrescrito / Eu reconheci / A mesma caligrafia / Que disse-me um dia / Estou farta de ti / Porém não tive coragem / De abrir a mensagem...”
Pombo Correio composta em 1965 por Dodô e Osmar, ao ganhar letra  de Moraes Moreira em 1978, fez logo sucesso, dançada no ritmo frenético do frevo pernambucano é exigida em toda apresentação do artista.   
“Pombo correio / Voa depressa / E esta carta leva / Para o meu amor. / Leva no bico / Que eu aqui /  Fico esperando/  Pela resposta / Que é pra saber /  Se ela ainda / Gosta de mim...”
Bem mais recente, Devolva-me” música do tempo da Jovem Guarda, 1966, com Leno e Lilian foi grande sucesso entre a juventude romântica.  
“Rasgue as minhas cartas / E não me procure mais/ Assim será melhor, meu bem! / O retrato que eu te dei/ Se ainda tens, não sei / Mas se tiver, devolva-me!...”
Como essas coisas não acontecem somente aqui no Brasil, busquei na grande Amália Rodrigues (1920-1999) um exemplo das choramingas nas canções portuguesas feitas através das cartas, o que encontrei em Fado do Ciúme, música que aparece no filme Capas Negras, de 1947, que marca a primeira participação da artista no cinema.  Há no Youtube vários trechos do filme. [clique na imagem]

“Se não esqueceste /  O amor que me dedicaste, / E o que escreveste / Nas cartas que me mandaste, / Esquece o passado / E volta para meu lado, / Porque já está perdoado / De tudo o que me chamaste.”


P. T. Juvenal Santos 

25 julho 2014

Cartas Brasileiras

Carta apaixonada, 
nem às paredes confesso.

Hoje acordei diferente.
Depois da higiene matinal corri até a cozinha onde minha mulher já tinha preparado meu pedaço de mão com manteiga, o leite pronto para ser aquecido, me aguardando; ela sempre faz isso, como porque ela faz, não que tenha fome pela manhã.
Dei-lhe um beijo de bom dia. Nossa, exclamou ela surpresa.
Pudera, foi um beijo diferente, um desses como não a beijava há muito tempo ao cair da cama. De troca recebi um suspiro como há muito não recebia.
Após o café fui para a varanda. Abri o jornal, folheei-o desinteressadamente, nada nele me despertava; também, naquela manhã! Fechei-o.
Fui para o computador. Não quis saber de emails, de mensagens pelo Twitter ou de notificações do Facebook. Busquei com certa ansiedade minha pasta com músicas; preciosidades!
E, naquela manhã em que me acordei diferente, senti uma vontade louca de ouvir Amália Rodrigues. Pus-me a escutar “Nem às paredes confesso”.
Repeti a música sei lá quantas vezes, até que resolvi buscá-la em vídeos na  Internet, quem sabe alguém tivesse postado uma interpretação. Infelizmente não tive sorte, encontrei apenas alguns slide show. 
Enfim, valeu.
            Minha mulher chegou e me perguntou o que se passava comigo, dei com os ombros. Ela comentou dizendo que eu acordara apaixonado. Apenas ri comigo mesmo, o coração apertado ao ver somente ela e eu em nossa casa, da mesma forma como chegamos após nos casarmos; somente nós e muitos sonhos.
Os filhos! Bem, os filhos cresceram e se foram. Vieram os netos, mas que também cresceram, que com seus afazeres, escola e atividades rarearam suas visitas.
Agora, novamente, nós. Por isso devo ter acordado diferente, acredito por ter, finalmente,  me dado conta de que, definitivamente, restamos ela e eu.
Por isso apenas para ela voltaram os meus beijos. Sem que tenha que dizer para mais ninguém de quem eu gosto, digo só para ela; mas não contem para ninguém!

P.T.Juvenal Santos
ptjsantos@bol.com.br

04 julho 2014

Órgão de Lorvão vai fazer-se ouvir de novo: hoje, com o organista João Vaz e a participação do Coro Mediae Vox Ensemble

Organista : Prof.JOÃO VAZ
Coro : MEDIAE VOX ENSEMBLE

Promovido pelo Centro Cirúrgico de Coimbra   www.ccci.pt


Aberto ao público em geral


Colaboração:
-Paróquia de Lorvão.
-Junta de Freguesia de Lorvão


Trata-se do 3º Concerto do Órgão Histórico do Mosteiro de Lorvão, após o restauro e concerto inaugural de 3 de Maio de 2014.

Fonte: Rui Batista