21 agosto 2014

Cartas Brasileiras: amando ou brigando por cartas

Amando ou brigando por cartas
Dizer que antigamente era assim pode dar a impressão de algo muito afastado no tempo, quando na verdade o passado está logo ali; quarenta, cinquenta, sessenta anos! Pois é, como antigamente a paixão distante era curtida e mantida na base das cartas, nas juras eternas de amor, o anúncio do rompimento, as lágrimas pela separação passavam também pelo correio. Se assim era na vida, não havia como a música popular não retratar esses momentos, daí existirem vários registros dessa época eternizados pela música.
“Devolvi” é uma dessas preciosidades, gravada primeiramente por  Nelson Gonçalves (1919-1998), cantor de muito sucesso nas décadas de 40, 50 e 60, sendo ainda apreciado pelos mais velhos. O autor português, Adelino Moreira de Castro (1918-2002) nasceu em Covêlo e faleceu no Rio de Janeiro. 
“Devolvi o cordão e a medalha de ouro / E tudo que ela me presenteou /Devolvi suas cartas amorosas / E as juras mentirosas / Com que ela me enganou. / Devolvi a aliança e também seu retrato/ Para não ver o seu sorriso /no silêncio do meu quarto...”
Mensagem” de Aldo Cabral e Cícero Nunes, composta em 1946 foi gravada inicialmente por Isaura Garcia, mais conhecida como Isaurinha Garcia (1923 -1993), uma das maiores cantoras brasileiras, a Edith Piaf brasileira.
“Quando o carteiro chegou/ E o meu nome gritou / Com uma carta na mão / Ante a surpresa tão rude / Nem sei como pude / Chegar ao portão / Vendo o envelope bonito / E no seu sobrescrito / Eu reconheci / A mesma caligrafia / Que disse-me um dia / Estou farta de ti / Porém não tive coragem / De abrir a mensagem...”
Pombo Correio composta em 1965 por Dodô e Osmar, ao ganhar letra  de Moraes Moreira em 1978, fez logo sucesso, dançada no ritmo frenético do frevo pernambucano é exigida em toda apresentação do artista.   
“Pombo correio / Voa depressa / E esta carta leva / Para o meu amor. / Leva no bico / Que eu aqui /  Fico esperando/  Pela resposta / Que é pra saber /  Se ela ainda / Gosta de mim...”
Bem mais recente, Devolva-me” música do tempo da Jovem Guarda, 1966, com Leno e Lilian foi grande sucesso entre a juventude romântica.  
“Rasgue as minhas cartas / E não me procure mais/ Assim será melhor, meu bem! / O retrato que eu te dei/ Se ainda tens, não sei / Mas se tiver, devolva-me!...”
Como essas coisas não acontecem somente aqui no Brasil, busquei na grande Amália Rodrigues (1920-1999) um exemplo das choramingas nas canções portuguesas feitas através das cartas, o que encontrei em Fado do Ciúme, música que aparece no filme Capas Negras, de 1947, que marca a primeira participação da artista no cinema.  Há no Youtube vários trechos do filme. [clique na imagem]

“Se não esqueceste /  O amor que me dedicaste, / E o que escreveste / Nas cartas que me mandaste, / Esquece o passado / E volta para meu lado, / Porque já está perdoado / De tudo o que me chamaste.”


P. T. Juvenal Santos 

25 julho 2014

Cartas Brasileiras

Carta apaixonada, 
nem às paredes confesso.

Hoje acordei diferente.
Depois da higiene matinal corri até a cozinha onde minha mulher já tinha preparado meu pedaço de mão com manteiga, o leite pronto para ser aquecido, me aguardando; ela sempre faz isso, como porque ela faz, não que tenha fome pela manhã.
Dei-lhe um beijo de bom dia. Nossa, exclamou ela surpresa.
Pudera, foi um beijo diferente, um desses como não a beijava há muito tempo ao cair da cama. De troca recebi um suspiro como há muito não recebia.
Após o café fui para a varanda. Abri o jornal, folheei-o desinteressadamente, nada nele me despertava; também, naquela manhã! Fechei-o.
Fui para o computador. Não quis saber de emails, de mensagens pelo Twitter ou de notificações do Facebook. Busquei com certa ansiedade minha pasta com músicas; preciosidades!
E, naquela manhã em que me acordei diferente, senti uma vontade louca de ouvir Amália Rodrigues. Pus-me a escutar “Nem às paredes confesso”.
Repeti a música sei lá quantas vezes, até que resolvi buscá-la em vídeos na  Internet, quem sabe alguém tivesse postado uma interpretação. Infelizmente não tive sorte, encontrei apenas alguns slide show. 
Enfim, valeu.
            Minha mulher chegou e me perguntou o que se passava comigo, dei com os ombros. Ela comentou dizendo que eu acordara apaixonado. Apenas ri comigo mesmo, o coração apertado ao ver somente ela e eu em nossa casa, da mesma forma como chegamos após nos casarmos; somente nós e muitos sonhos.
Os filhos! Bem, os filhos cresceram e se foram. Vieram os netos, mas que também cresceram, que com seus afazeres, escola e atividades rarearam suas visitas.
Agora, novamente, nós. Por isso devo ter acordado diferente, acredito por ter, finalmente,  me dado conta de que, definitivamente, restamos ela e eu.
Por isso apenas para ela voltaram os meus beijos. Sem que tenha que dizer para mais ninguém de quem eu gosto, digo só para ela; mas não contem para ninguém!

P.T.Juvenal Santos
ptjsantos@bol.com.br

04 julho 2014

Órgão de Lorvão vai fazer-se ouvir de novo: hoje, com o organista João Vaz e a participação do Coro Mediae Vox Ensemble

Organista : Prof.JOÃO VAZ
Coro : MEDIAE VOX ENSEMBLE

Promovido pelo Centro Cirúrgico de Coimbra   www.ccci.pt


Aberto ao público em geral


Colaboração:
-Paróquia de Lorvão.
-Junta de Freguesia de Lorvão


Trata-se do 3º Concerto do Órgão Histórico do Mosteiro de Lorvão, após o restauro e concerto inaugural de 3 de Maio de 2014.

Fonte: Rui Batista

30 junho 2014

Coral Divo Canto vai apresentar espectáculo inédito em Penacova


Depois de há dias termos divulgado o cartaz, recebemos, hoje, dia 2,  um texto de Eduardo Ferreira que nos fornece mais pormenores sobre o espectáculo e lança um convite a que ninguém falte.

No próximo Sábado à noite (dia 5 de Julho - 21 horas)  em frente à Câmara de Penacova vai acontecer um espetáculo inédito por estes lados, que ninguém deve perder!


Graças à coragem, à paciência e sobretudo à competência do Maestro Pedro André Rodrigues  e às excelentes vozes das solistas que interpretam Orfeu, Eurídice e Amor (Ana Carolina Rodrigues, Carolina Simões e Joana Carvalho, respetivamente), os Penacovenses e todos aqueles que ali se desloquem podem assistir à ópera Orfeu & Eurídice, uma imortal história de amor, composta por Christoph W. Gluck, aqui apresentada pelo Grupo Coral Divo Canto, de Penacova, com as participações dos professores Júlio Dias ao Piano e Gonçalo Rocha na flauta transversal e da Escola de Ballet de Penacova e Silveirinho.
 
É assim um excelente pretexto para ir até Penacova, onde para além do espetáculo, dá ainda para nos deliciarmos com uma saborosa nevada e com a deslumbrante paisagem.
 
Lá nos encontraremos!


Eduardo Ferreira

09 junho 2014

Cavaquinho em Cartas Brasileiras

Cavaquinho em Cartas Brasileiras  

Nelson Antonio da Silva, mais conhecido como Nelson do Cavaquinho é um dos grandes nomes da boa música brasileira; o apelido que ganhou já diz bem qual era o forte dele. Autor de umas 400 músicas, algumas chegou até a vender para poder se sustentar, tinham como tema o sofrimento, a ingratidão de amor, e uma quase obsessão  pela morte. Uma composição que bem demonstra o estilo das músicas é como “Quando eu me chamar saudade”.
clique na imagem
Sei que amanhã / Quando eu morrer / Os meus amigos vão dizer/  Que eu tinha um bom coração / Alguns até hão de chorar / E querer me homenagear / Fazendo de ouro um violão / Mas depois que o tempo passar / Sei que ninguém vai se lembrar / Que eu fui embora/ Por isso é que eu penso assim / Se alguém quiser fazer por mim / Que faça agora / Me dê as flores em vida/  O carinho / A mão amiga / Para aliviar meus ais / Depois que eu me chamar saudade / Não preciso de vaidade / Quero preces e nada mais.Nascido em 29 de outubro de 1911, faleceu em 18 de fevereiro de 1986.
No “chorinho” o grande intérprete e compositor foi Waldir Azevedo (27/01/1923 – 20-09/1980). É o autor do famoso  “Brasileirinho”.

clique na imagem
No Brasil todo grande tocador de cavaquinho gosta de executar essa música para mostrar sua qualidade artística e técnica. Waldir compôs muitas outras, como  “Delicado”, “Pedacinhos do céu”

clique na imagem
Waldir Azevedo com sua maestria levou o cavaquinho para uma posição de destaque na interpretação musical, com o que deixou de ser apenas mais um dos instrumentos de acompanhamento. 

E por que falo de cavaquinho! Por tudo que tinha até então escutado, imaginava que o cavaquinho fosse um instrumento genuinamente brasileiro. Mas, ao ver no blog o convite para o almoço comemorativo do 20° aniversário da Casa do Concelho de Penacova, li que uma das atrações será o Grupo de Cavaquinhos de Rebordosa. Fiquei curioso e me pus a pesquisar sobre o assunto tendo descoberto, o que de há muito ai já é sabido, que o instrumento,  também chamado de braquinha, braga e machete, tem origem no Minho (Portugal), de onde espalhou, até chegar ao Brasil.

E do Brasil mando abraços para todos.

P.T.Juvenal Santos


Nota da redacção: havia uma correcção a fazer relativa a datas de nasc / morte. Aos leitores as nossas desculpas.

02 junho 2014

Lisboa: Casa do Concelho de Penacova vai assinalar o 20º Aniversário

Adicionar legenda
A Casa do Concelho de Penacova é uma associação regionalista, sem fins lucrativos, composta por pessoas singulares e colectivas ou equiparadas. Foi fundada em 9 de Junho de 1994, por escritura pública realizada no 20º Cartório Notarial de Lisboa, publicada no “Diário da Republica” nº 174 / 94 (III Série) de 29 de Julho de 1994. Foram fundadores José Bernardes de Oliveira, natural de S. Pedro de Alva, e António Pimentel, Carlos Augusto Luís Simões e António Vicente Cabral, naturais de Penacova. Tem a sua sede em Lisboa, na Calçada de Carriche, nº 47 B, freguesia da Ameixoeira. Logo que foram conseguidas instalações, sucedeu à LACP (Liga dos Amigos do Concelho de Penacova) que, com esse objectivo, tinha sido fundada em 15 de Junho de 1985 pelos mesmos penacovenses, e outro, José Fernandes.

A Casa do Concelho de Penacova tem como principal finalidade promover culturalmente os seus associados; desenvolver a solidariedade entre os naturais do concelho ou que a ele se sintam ligados por laços familiares ou de amizade; divulgar as suas belezas paisagísticas, o seu património cultural e artístico, a sua gastronomia, o seu artesanato e o seu folclore; participar no desenvolvimento do concelho e prestar apoio possível ao seu comércio e à sua indústria; defender o concelho de tudo o que possa causar-lhe danos morais ou patrimoniais; organizar eventos culturais, recreativos e outros de carácter regionalista, entre sócios e simpatizantes; favorecer a prática de modalidades desportivas; colaborar com as associações similares e com as autarquias do concelho; auxiliar, dentro do possível, os penacovenses que se encontrem carenciados.

A Casa do Concelho de Penacova é sócia fundadora da ACRL – Associação das Casas Regionais em Lisboa – fez parte do seu Conselho Fiscal de 2008 a 2010 sendo presentemente Vice-Presidente da Direcção para Área Patrimonial, Equipamento e Logística.

Veja:

http://www.casaconcelhopenacova.pt/index.htm

11 maio 2014

Promover anualmente em Lorvão uma Semana de Cultura à volta da Música Antiga, defende Dinarte Machado

A concluir as referências à inauguração do órgão do Mosteiiro de Lorvão e como prometido, publicamos o texto de Dinarte Machado que constava do desdobrável alusivo ao evento. Fica também a mensagem do pároco, Padre Pedro Miranda.

ÓRGÃO HISTÓRICO DO MOSTEIRO DE LORVÃO
  . Dinarte Machado, mestre organeiro

O órgão histórico do Mosteiro de Lorvão é o maior órgão construído em Portugal no século XVIII. É um instrumento que, apesar da sua dimensão, não deixa de ser personalizado e seccionado em relação à sua planificação sonora, tornando‑o um instrumento "sensível" e deveras singular.

Foi projetado por Manuel Machado Teixeira de Miranda, natural de Braga, organeiro e escultor, que deu início à sua construção, instalando em primeiro lugar a caixa quase ao centro do corpo sonoro da igreja, sendo uma parte a igreja propriamente dita e a outra o coro baixo. Este organeiro, foi pai do escultor Joaquim Machado de Castro e, em terceiras núpcias, pai do organeiro António Xavier Machado e Cerveira. Foi, aliás, Machado de Castro, quem desenhou e executou a caixa deste instrumento, a sua maior obra deste tipo, onde se expõem figuras e cenas musicais e onde os pontos estáticos praticamente não existem. Tudo está em movimento, distribuído por duas fachadas: a do lado do coro (a principal), e a do lado da igreja. É do lado do coro que o organista toca e para onde estão direcionados os tubos de palheta, com os seus ressoadores de trombetas horizontais, à boa maneira portuguesa, cujo aspecto apenas se pode apreciar em Portugal em Espanha.

Diposição da registação
 na consola
Em relação ao instrumento, António Xavier Machado e Cerveira, após a morte de seu pai, fez cumprir muitos dos compromissos assumidos por este, com quem aprendera e trabalhava já com a sua merecida confiança. Assim, completou, alterou e acrescentou vários dos instrumentos iniciados pelo pai, como o da Basílica dos Mártires em Lisboa, a Igreja Matriz de Praia da Vitória, o Mosteiro dos Jerónimos, a Basílica da Estreia em Lisboa, entre outros. O órgão do Mosteiro de Lorvão, inscreve-se nessa prática, mas criou alguma controvérsia por ser de tão grande dimensão, não sendo do agrado de Machado e Cerveira. Todavia, cerca de catorze anos após a morte de seu pai, Machado e Cerveira decide dar seguimento ao projecto, alterando e acrescentando registos, a fim de o adaptar à prática musical do seu tempo. Também o aspecto económico travou todo este processo, e só por volta de 1793 António Xavier Machado e Cerveira termina este belo instrumento, tornando‑o, no seu conjunto, numa espécie de escola (dada a sua composição) e num exemplar único no panorama da organaria portuguesa.

O órgão é composto por dois teclados manuais e sessenta e dois meios registos distribuídos por vários planos sonoros individualizados, controlados por pisantes existentes na consola, cujo som é produzido por quase 4000 tubos. Cada pisante, anula uma secção sonora, a qual se harmoniza com a base do instrumento, desde os registos de mutação, (reforço da base), caixas de eco, cornetas e palhetas (trombetas). Parecendo complexa a sua composição e "manuseamento", depois de nos integrarmos percebe‑se exatamente o contrário. Tudo parece ter sido feito de modo a facilitar a sua utilização, por parte do organista que o pretenda tanger.

As duas fachadas (a do coro e a da igreja) são preenchidas com tubos de 24 palmos, os quais são sonoros. O projecto inicial, não contemplaria o funcionamento da fachada do lado da Igreja. No entanto, a análise rigorosa de todas as peças deste conjunto faz‑nos acreditar que tenha sido António Xavier Machado e Cerveira quem optou por fazer este reforço sonoro (sobre os graves), pretendendo que ambas as fachadas fossem utilizadas em conjunto, juntando‑se a estes apenas um registo de 12 palmos e um outro de 6 palmos. O efeito desta combinação é deveras impressionante e só pode ser experimentado neste instrumento. Este é o único órgão em Portugal com duas fachadas desta dimensão sonora que, desafiando as leis da acústica (sonoridade geral sendo emitida sem refletor acústico), funciona naquele espaço, na perfeição.

Saliento que o órgão português que considero mais bem planeado e com uma concepção admirável é o do Mosteiro de Santa Maria de Semide, o qual também restaurámos. Aquele Mosteiro pertencia à mesma Congregação que o Mosteiro de Lorvão e o instrumento foi construído na mesma época por António Xavier Machado e Cerveira. A arte organeira em Portugal, que tem o seu expoente máximo no último quartel do século XVIII, indo até ao fim da primeira metade do século XIX (embora já em decadência), é de tal riqueza e com uma identidade tão definida que se torna única no panorama mundial.

O órgão do Mosteiro de Lorvão é testemunho do conjunto de mais de uma centena de órgãos desta traça portuguesa, num universo de quase mil instrumentos existentes no país. 

Página do Diário de Coimbra,
de 9 de Maio
Creio que o órgão do Mosteiro de Lorvão virá alertar para a necessidade de manter estes instrumentos, através da formação de novos organeiros experimentados e empenhados na preservação desta parcela tão importante da nossa história, que outrora nos dignificou e nos fez grandes, perante o mundo. 

Hoje podemos afirmar que conservámos um número significativo de órgãos históricos em Portugal, dignificando a sua escola de organaria. Ignorar este facto significa perdermos a nossa identidade cultura[, algo muito mais importante do que um esforço financeiro pontual. A perda de identidade cultural é irrecuperável e deixa‑nos sem personalidade e sem a dimensão suficiente para recuperarmos o tal esforço financeiro. Hoje, perante o mundo, podemos dizer que em Portugal contactamos muitas vezes com instrumentos no seu estado mais puro e original (eu próprio o posso testemunhar), algo que em muitos países da Europa é de todo impossível. Assim confrontados com o elemento original, podemos criar uma escola mais "pura" e mais verdadeira seguindo esse ensinamento.


Tenho a esperança que em Lorvão e a partir do ecoar deste instrumento, se crie uma semana de cultura à volta da Música Antiga, chamando jovens e admiradores desta faceta cultural, apelando ao contacto e à formação em Portugal de pessoas nesta área, atraindo gente das várias partes do globo para conhecer os órgãos restaurados nesta zona e por todo o país (com eixo em Lorvão) e dando a conhecer o nosso património nas mais variadas vertentes culturais.


Agradecimento e compromisso

 . Pedro Cartos Lopes de Miranda, Pároco de Lorvão

Para uma paróquia essencialmente rural, apesar da proximidade à cidade de Coimbra, e cuja dimensão fica naturalmente muito aquém duma correspondência proporcionada à obrigação natural de habitar e cuidar de um monumento nacional com o significado da Igreja do Mosteiro de St' Maria de Lorvão, estava também completamente fora do seu alcance esta obra que hoje temos a alegria de chegar finalmente à sua plenitude: a obra de restauro do seu órgão.

O investimento que tal obra supôs revela grande coragem da parte da Direcção Regional de Cultura do Centro e do Estado Português, coragem que o povo de Lorvão, cheios de saudades os mais velhos do seu órgão e das liturgias por ele embelezadas, cheios de curiosidade e esperança os mais novos, só pode agradecer encarecidamente.

Permita‑se‑me, em nome do povo católico de Lorvão, formular um compromisso da sua parte para o futuro deste importante instrumento do património organológico nacional: fazer tudo o que está ao seu alcance para que o seu uso litúrgico ‑ que e o seu mais natural ‑ seja o mais quotidiano possível, para lhe garantir a saúde e a longevidade. Penso que pelo menos um sinal, embora inconsciente, já temos da viabilidade desse compromisso: o modesto mas esforçado contributo dos fiéis católicos, que são quem sustenta a vida quotidiana desta sua igreja matriz, para o orçamento tão grande desta obra. Qual? Perguntar‑se‑á. Seja‑me permitida confissão: com a conta mensal da energia eléctrica, que, durante as obras do órgão e outras em curso de iniciativa pública, atingiu uma dimensão que, a ser assim perenemente, nos levaria à ruína.

Quem fez este esforço, seguramente estará disposto a continuá‑lo à medida das suas capacidades, para uma: "longa vida ao órgão da Igreja do Mosteiro de Sta Maria de Lorvão."